Na mitologia grega, Chronos, o deus que representa o tempo, devorou seus próprios filhos numa alusão de que tudo que existe pode findar, não nos restando alternativa, pois mais cedo ou mais tarde seremos todos vencidos por ele. Dizem que o tempo é cruel, que não perdoa, que destrói. Mas, na verdade, ele só cumpre seu papel, passa. Sua grandeza está em mostrar que tudo é efêmero e transitório. O tempo nos faz virar história. Resume em poucas linhas uma vida inteira. Vai levando consigo egos inchados, destruindo vaidades, revelando segredos e desvendando mistérios. É o tempo que nos permite viver as consequências dos nossos atos. Sem ele, estacionaríamos nas causas, sem condições de avaliar nossas atitudes, a não ser com o condão do imediatismo. O tempo é o único responsável pela colheita de tudo que plantamos um dia. Ele nos expõe a julgamentos, mas nos permite, com sabedoria, aprender com nossos próprios erros.
Na política brasileira o tempo está passando para aqueles que se julgaram eternos e detentores da moralidade pública e do pensamento único. As pirotecnias enganosas e atitudes inconsequentes agora cobram o seu preço. O governo que se instalou no país há 13 anos achou que do alto do seu poder poderia fazer o que bem entendesse, se valendo de práticas escusas para se perpetuar. Mas o tempo se encarregou de mostrar a todos os desvios, as falcatruas, a incompetência, a arrogância e o descaso com a população, que hoje é obrigada a pagar por tanta desfaçatez. Os truques foram revelados e até as pedaladas fiscais, que eram para ficar por isso mesmo, esquecidas em relatórios extensos encaminhados ao TCU, hoje embasam um pedido de impeachment da presidente. Quem diria! A máscara caiu. E, agora, intocáveis de outrora se veem às voltas com a Justiça e correm atrás do prejuízo, classificando de golpe o ato de fazer cumprir a Constituição. Acabou, não cola mais. Revelador, o tempo nos mostrou e continua mostrando quem é quem na política brasileira, destruindo mitos e desmantelando quadrilhas. Os antes populares líderes não podem sequer sair às ruas, perseguidos que são por vaias e gritos de repulsa.
E o tempo segue sua missão de nos expor às consequências dos nossos atos, lembrando-nos a cada dia que somos passageiros e que a glória e o poder são inconstantes habitantes de nossas vidas. Passa tempo. Fico aqui no aguardo da melhor decisão para o nosso país.
