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Um povo, uma moeda - Do Collor ao Real

Conviver com hiperinflação levou a um processo adaptativo estranho como, por exemplo...

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 13/04/2016 às 22:06Atualizado em 16/12/2022 às 19:20
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Conviver com hiperinflação levou a um processo adaptativo estranho como, por exemplo, comprar vassouras sem precisar só porque o supermercado liquidava vassouras! Isso levou a um aumento do consumo determinando até mesmo um novo conceit consumismo, o fator determinante de gastos era o preço e não a necessidade! Assim as ofertas de produtos obrigavam o gasto desnecessário e quantas pessoas voltavam do supermercado ou das lojas com várias e onerosas sacolas sem, no entanto, conter os itens imprescindíveis! Mais uma vez, os brasileiros, lutando pela estabilidade e pela manutenção do “Poder de Compra” da sua moeda, se adaptavam numa questionável linha de defesa!

Mas o ano de 1989 iria provocar uma freada derrapante: o plano Collor e o confisco! Nesta época de hiperinflação ficar com dinheiro na mão era regredir, era perder valor. O jeito de fugir dessa ciranda era gastar, fazer dívidas e/ou aplicar desenfreadamente seja no overnight, na poupança ou conta remunerada. Aos brasileiros, coube tornarem-se aplicadores subtendendo conhecer mercado financeiro, fusos horários e porcentagens de lucros. Muitos vendiam terras, imóveis e bens para aplicar no sistema bancário. Quando todos estavam já “viciados”, o novo presidente Fernando Collor de Melo toma posse. Em seguida, “fecha os bancos” e solta a bomba: todos teriam que se virar com os Cr$ 50,00 (cinquenta cruzeiros) que sobraram ao confisco de 18 meses. Quanto sonho desfeito, quanto projeto coartado, quanta desilusão, quanta dor! Alguns poucos sábios fizeram saques antes da posse! E, assim, não tinham de ficar em frente à televisão esperando as explicações da “equipe econômica” preferentemente Zélia Cardoso de Melo com sua empolada linguagem própria: o economês! Um final de semana de suspense na espera aflita de que na segunda poderiam procurar seus bancos e verificar realmente o “roubo”.

O que agora podemos refletir é na ausência dos parlamentares e juízes que defendessem “o povo” saqueado! A festa de quinze anos que não aconteceu, o casamento adiado, as férias abolidas, as perdas irreparáveis responsáveis por doenças coronárias e ataques de angústia e, até mesmo colapsos nervosos. Fatos novos revelando corrupção e desvio de dinheiro provocaram o impeachment de um Presidente eleito democraticamente mesmo que sustentado por falsas promessas e propostas ardilosas. No entanto, o vice que assumiu - Itamar Franco - trouxe consigo nova equipe e novas formas de abolir o processo inflacionário. Depois de três ministros passageiros, a escolha recaiu no então ministro das Relações Exteriores Fernando Henrique Cardoso que, ao aceitar imediatamente o cargo de Ministro da Fazenda demonstrou acreditar na possibilidade de estancar o processo inflacionário de vez: nascia aí o Plano Real.

(*) psicóloga e psicanalista

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