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Agora eu era

Agora eu era. Chico, me dê licença para usar a expressão que quando criança falávamos...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 12/04/2016 às 22:13Atualizado em 16/12/2022 às 19:21
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Agora eu era. Chico, me dê licença para usar a expressão que quando criança falávamos para personificar um herói ou ídolo. Agora eu era o Rivelino do Fluminense, muito embora não seja canhoto, mas não importa, porque agora eu era, e está decretado. Agora eu era o inventor do drible elástico e o mais morteiro chute de perna esquerda. Minha dificuldade de jogador era o chute com a canhota, mas agora eu era o “bigode” daí tudo pode. Que bom se pudéssemos simplesmente dizer agora eu era e tudo se resolveria. Porque certamente agora eu era tantos que a maioria não me permito revelar. Também ditávamos a outros ao contrário do agora eu era, você vai ser. Interessante que não se falava agora eu sou, era sempre uma projeção no pretérito ou no futuro. O presente, provavelmente, não descola para o imaginário. Para sermos o que imaginamos, não comporta o presente, porque ele nos desmente e nos aterrissa, grudando-nos no chão, podando asas, fechando o tempo e quebrando o sonho. O tempo é passado, passamos o tempo no presente e não alcançamos o futuro antes de ele se tornar presente, portanto, futuro não existe e sempre é esperado, ou seja, estamos a esperar algo inatingível. A corrida do tempo é sequência de finados futuros passados. Essa é a lógica que não nos tira do sério e nos “mortaliza” a cada instante e vai nos encaminhando para o que denominamos destino. Sem transgressão ao tempo, a vida é a mera realidade com convicções cotidianas modelares pela própria conveniência da convivência. Não há espaço para outros espaços. Transgredir é uma arte inerente a todos e cada um sabe de si nesse ofício da imaginação que nos tira do chão e nos torna tantos e tantas viabilidades ou inviabilidades, dependendo da sequência dos finados futuros passados que experimentamos. O direito à ilusão é cláusula pétrea inquestionável e inalienável a todo ser e deveria constar de qualquer apanhado de leis porque é alimento precioso para não debilitar nossa sensatez. Os insensatos não sabem o que perdem, obviamente. Agora, “eu fui o que tu és, tu serás o que eu sou”. Enquanto isso não acontece, vamos brincando, agora eu era, você vai ser, viva.

(*) Engenheiro

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