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Esquinas

Esquinas existem, e são muitas, algumas famosas, outras anônimas. Interessam-me...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 10/04/2016 às 12:46Atualizado em 16/12/2022 às 02:59
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Esquinas existem, e são muitas, algumas famosas, outras anônimas. Interessam-me as esquinas do tempo, aquelas que são como pontos de inflexão, as que se comportam como as viradas que a vida dá quando menos se espera. Tem também as que são como empuxos de sorte ou de azar, se é que isso existe. E as reviravoltas: parece que são de um jeito, mas mudam de repente. Que o digam os que já passaram por uma delas!

As esquinas nos dizem que o tempo passa, se transforma, some de vista, vai longe, para reaparecer mudado, quando menos se espera. Às vezes desaparece para sempre, fica só a lembrança. Chego à conclusão que se trata de um movimento meio que inevitável, não adianta espernear. O problema é o rumo a tomar, por vontade competente ou não, o que deixa as pessoas perdidas, sem direção, sem saber se dobram uma esquina ou se tomam um café. Vai saber!

Virar uma esquina se compara a passar uma página de um livro. Se a história é boa, a gente vira logo a página, vai rápido, se espanta, se emociona, segue lendo. A curiosidade nos surpreende e a leitura se acelera. Se não empolga, às vezes nem percebemos que passamos por uma esquina. Você sabe quando passou por uma esquina? Percebe quando as coisas estão mudando? Ou se fecha no seu próprio mundinho?

Nos anos 1960, que foi uma época de dobrar esquinas, os meninos eram proibidos de fazer muitas atividades. Quantas regras, quantos cuidados excessivos, crendices e histórias assustadoras para disciplinar o que podia e o que não podia ser feito! Não podia comer manga com leite, não podia andar de costas, não podia apontar para uma estrela senão nascia uma verruga na ponta do dedo, não podia abrir um guarda-chuva dentro de casa... Muito cuidado! Meninos não deviam fazer caretas, pois se batesse um vento era grande o risco de o rosto ficar torto pra sempre. Devia-se evitar pegar o último biscoito da travessa, senão você não se casava. Entrar na água, numa piscina, no mar ou num rio, após o almoço, era uma temeridade. As tias mais velhas diziam que entortava a boca, que causava constipação, que podia provocar cãibras e morrer afogado! Assustador, não acha? Penso até que elas tinham a sua parcela de razão, mas a vigilância e as regras eram exageradas, autoritárias.

Sempre foi necessário dobrar esquinas antes da hora, de subverter as normas e o chamado bom comportamento. Senão o mundo não anda. Quais são as regras hoje? Já pensaram nisso? Como seremos julgados pelos caras do futuro? Quais são nossos medos e preconceitos? Quais são as coisas que reputamos como corretas sem pensar nelas? Aquelas coisas que estipulamos normais de antemão, sem refletirmos sobre seu significado? Já é hora de dobrar algumas esquinas e deixar o velho mundo para trás, pois seu declínio é visível.

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