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Viagem no tempo

Férias de julho!! Enfim, a tão esperada viagem com a família, por meses planejada...

Fernando Hueb de Menezes
Publicado em 07/04/2016 às 19:13Atualizado em 16/12/2022 às 02:59
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Férias de julho!! Enfim, a tão esperada viagem com a família, por meses planejada. Reuniões e mais reuniões, com o mapa na mesa, definindo rotas e melhores caminhos para chegarmos à terra de origem do meu querido pai, Professor Murilo. Percurso longo, em estradas pouco conhecidas, a maioria sem asfalto, e travessias não muito previsíveis. Destin Canto do Buriti, no Piauí.

A Belina branca, ano setenta e nove, era preparada no dia anterior. Um bagageiro no teto abrigava as malas, recobertas por uma lona alaranjada, bem fixada com cordas azuis. No outro dia, às cinco da manhã, todos de pé, preparados para longa jornada de dois mil quilômetros e dois dias e meio de viagem. Meu pai, minha mãe e minha irmã dividiam os dois bancos da frente. Meus três irmãos mais velhos, no banco de trás, e eu me acomodava no porta-malas, com duas almofadas me protegendo. Cinto de segurança, GPS, ar-condicionado? Pra quê? Estávamos em família, felizes, isso somente era o que importava.

Partimos então, acompanhados de outra família, a do nosso primo José Deusdará, com seis pessoas naquele Opala ano setenta e oito, branco. Todo precavido, levava cordas e outros apetrechos, caso houvesse necessidade de algum socorro. Rumo a Brasília, encontrávamos outro primo com sua família, o velho Batista, com sua esposa e dois filhos, que em outro Opala, prata, ano oitenta e dois, completava o comboio.

Uma verdadeira aventura, ainda mais para mim, com dez anos de idade. Aquele carro pesado, dançando nas estradas de chão, tendo como fundo o som de Roberto Carlos. Meu pai, ao volante, tentava mirar na bitola, que era a marca deixada pelos veículos que já haviam passado por ali, mas, mesmo assim, os buracos eram inevitáveis. Poeira não faltava e, quanto mais avançávamos rumo ao norte, a paisagem se tornava mais seca e árida.

Quando parecia que nada de pior pudesse acontecer, sem qualquer placa ou aviso, nos deparávamos com um riacho cortando a estrada. Nem sinal de ponte ou caminho alternativo. O carro tinha que atravessar a correnteza. Naquele momento, todos ali se transformavam em especialistas, e palpites não faltavam. Descíamos do carro, e a ideia sempre era entrar devagar e acelerar de uma vez, quando estivesse já dentro da água. Lembro-me do Opala do nosso primo Deusdará, entalado no meio do rio e, ao abrir a porta, a correnteza entrando por entre os bancos e todos gritavam de fora: “Deusdará, salva o toca-fitas!! E aquelas cordas, que antes serviam para que ele pudesse socorrer alguém, foram usadas no resgate do opala branco, quase todo encharcado pelas águas turvas daquele riacho. (Continuação...)

(*) Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba, chefe de Gabinete da Prefeitura de Uberaba

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