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Ordem no galinheiro

Já morei em uma casa com um quintal enorme, que, além de árvores, tinha um galinheiro...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 03/04/2016 às 12:31Atualizado em 16/12/2022 às 19:28
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Já morei em uma casa com um quintal enorme, que, além de árvores, tinha um galinheiro. Eu passava algum tempo alimentando e observando as galinhas, sempre barulhentas e festivas. Só mesmo quando anoitecia que corriam para o poleiro e lá ficavam quietinhas, dormindo. Lembro-me que ri muito quando elas foram enganadas por um eclipse de sol e, em plena tarde, empoleiraram-se, como se já fosse noite.

Ordem no galinheiro, expressão que clama por alguma lógica, é o que está em falta na política brasileira do troca-troca de partidos. A permissão que foi dada aos senhores membros de cargos eletivos para trocarem de legenda, sem perder seus cargos, aprofundou o já clássico descompromisso dos eleitos com seus eleitores. Pensem comigo. Votei em um vereador ou deputado de um partido que, como eu, não comungava com bordões e práticas petistas ou comunistas. De repente, esse meu representante muda de lado, sem me consultar, e passa a fazer parte de um partido que compõe a base aliada do governo petista, que não aprovo. Sinto-me órfã. Sem representação. Onde ficam a coerência, o respeito e o compromisso?

A política virou um fim em si mesmo. Valem apenas os conchavos, os falsos apertos de mãos, as reuniões às escondidas. O eleitor é um mero detalhe, fácil de enganar com propagandas e promessas. O objetivo dos nobres membros dos poderes Legislativo e Executivo é se manter no Poder, não importando de que forma for. Dizem, a seu favor, que se vota em candidato e não em partido. Se assim fosse, para que existiriam os partidos e o cobiçado Fundo Partidário? E, ainda, por que a filiação é obrigatória para concorrer a qualquer cargo eletivo? É notório que existem partidos de aluguel para viabilizar candidaturas. Não é difícil, já que no Brasil são 35 partidos registrados, muitos deles perdendo sua identidade, com diretórios loteados e presididos por pessoas que não se encaixam, nem comungam com suas diretrizes básicas. Comércio descarado de falsas ideologias. O mínimo que se pode exigir de um eleito pelo voto popular é coerência, já que outros requisitos não lhe são cobrados. Institucionalizar essa troca partidária é dar um tapa na cara dos eleitores. Fico boquiaberta assistindo a um bando de excelências ciscando oportunidades de se elegerem, princípios, valores e compromissos à parte. Precisamos de um eclipse total para pôr ordem no galinheiro, que, sozinho e sem pressão, vai continuar no caos, facilitador de tantas falcatruas e hipocrisia.

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