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Lições das ruas

Contra o povo nas ruas não há argumento. Esse domingo, 13, confesso...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 15/03/2016 às 19:53Atualizado em 16/12/2022 às 03:01
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Contra o povo nas ruas não há argumento. Esse domingo, 13, confesso que me surpreendi pela robustez do movimento. Não há como refutar ou buscar explicação, desconsiderar a estrondosa manifestação de milhões de brasileiros e brasileiras. É inquestionável o descontentamento. Uma demonstração de amadurecimento, talvez, mas, com certeza, um avanço na conduta da maioria que compareceu. Pouco xingamento por parte de um ou outro que ainda precisa entender que as pessoas devem ser tratadas com respeito. Não me agrada determinados palavrões dirigidos a autoridades e a quem quer que seja. Percebi que houve uma diferença positiva em relação a manifestações anteriores, como uma lamentável em campo de futebol. Protestar com grau elevado, educação, civilidade, sem dancinhas ensaiadas, aí sim fala alto e cala fundo. Louvável a orientação da Presidente no sentido de respeitar os manifestos, preservando a democracia, evitando confrontos e inconsequentes desdobramentos. Não há mais espaço para intransigência e intolerância, precisamos aprender que contrários existem e que desfrutam do nosso mesmo direito de contestação, de ideias divergentes, opiniões opostas, discernimentos distintos, convicções diferentes, aspirações não convergentes, enfim, a beleza da política e sua importância estão exatamente nessas virtudes. Haja paciência, mas é com ela que vamos, cada vez mais, saber conviver em um regime democrático. O exercício da militância permanente é salutar e necessário para uma nação tão nova em termos de democracia contínua. Das mensagens de domingo, uma ficou muito clara: política tradicional está com os dias contados, não há mais espaço para o chamado status quo estabelecido há anos. É preciso captar rapidamente e entender que não prosperarão práticas e vícios de anos e anos. Isto não ocorre apenas aqui, as recentes mobilizações em vários países também emitiram essa mensagem. A Espanha foi um deles. Há que reinventar, inovar e avançar. O vazio de liderança e a negação da política têm que ser interpretados de modo a não desaguar em correntes e propostas que trazem o retrocesso travestido de moralidade, patriotismo e idoneidade. Todo cuidado é pouco. Movimentos que não vislumbram o day after de forma coesa e em sintonia podem levar a soluções nada compatíveis com a própria liberdade de manifestação, conquistada a duras penas. Quem está um pouco mais adiantado cronologicamente sabe que não foi fácil. O Brasil precisa virar essa página. Esse domingo foi o marco para uma mudança de conceitos. A democracia esteve em alta, desfilando na avenida. Que seja assim, sempre.

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