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Rouba, mas faz

Existe uma máxima segundo a qual tudo que alguém realmente quer dizer vem depois do “mas”...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 21/02/2016 às 18:08Atualizado em 16/12/2022 às 20:01
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Existe uma máxima segundo a qual tudo que alguém realmente quer dizer vem depois do “mas”. Quando, por exemplo, dizemos a uma amiga que ela está linda, mas a cor do vestido não foi uma boa escolha, a ênfase está no vestido, e não no elogio. Exemplos não faltam para justificar os “mas” da vida.

“Rouba, mas faz” é uma espécie de refrão que ficou famoso na política brasileira do jeitinho, para deixar claro que o importante é fazer alguma coisa, a despeito de desvios de dinheiro em causa própria. Isso ficou tão enraizado na população, como um “meme”, que se transformou em uma espécie de salvo-conduto para políticos desonestos em todos os níveis de governo. Se eles construíssem escolas, hospitais ou obras de interesse popular e mantivessem a governabilidade, desculpavam-se os delitos. Lamentável. E, assim, eles foram nos testando. Roubaram 100, ninguém falou nada. Roubaram 200 e continuamos calados. Escudados pela impunidade, não mediram a voracidade do apetite e chegamos aonde estamos hoje, assistindo ao que foi considerado o segundo maior escândalo de corrupção do mund o Petrolão. E ainda tenho minhas dúvidas, se o que realmente está mais incomodando a população é a falta de capacidade administrativa da presidente ou os seguidos escândalos de corrupção.

Tenho tolerância zero para com o roubo de dinheiro público, seja por apropriação indébita, prevaricação, enriquecimento ilícito, vantagens indevidas ou o célebre caixa dois. Tudo isso são ilícitos, indesculpáveis em um país que arrecada trilhões em impostos e que tem um dos maiores quadros de cargos de confiança do mundo. Pessoas fazem escolhas e, se optaram por se tornar funcionários públicos, devem satisfação ao povo, seu empregador. Consciências elásticas que permitem aos ocupantes de cargos eletivos se considerarem acima do bem e do mal, permitindo-se locupletar e tirar vantagem de sua posição privilegiada porque estão fazendo “o bem” para o país, são inadmissíveis. Somos todos iguais perante a lei. Ou não? Elevar alguém à situação diferenciada de imputabilidade é compactuar com o crime. O “todos roubam” não pode ser desculpa para os malfeitos. Acredito, com base em tudo que já vi, que é, sim, possível fazer um bom governo sem roubar um tostão do povo. Vamos ficar de olho.

Marcia Moreno Campos

Economista

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