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72 horas

Existe um princípio, citado no livro O Mentalista, de Thorsten Havener, que afirma...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 15/11/2015 às 11:19Atualizado em 16/12/2022 às 21:18
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Existe um princípio, citado no livro “O Mentalista”, de Thorsten Havener, que afirma que se você planejar alguma coisa,  deve realizá-la ou iniciá-la no prazo máximo de 72 horas, para não correr o risco de adiar indefinidamente essa ação, até seu completo abandono. Isso vale para pequenas e grandes coisas. Quem não compra rapidamente os ingressos para um show, por exemplo, pode se lamentar por transformar o “ir” em um “gostaria de ter ido”.

Escrevo sobre isso como um grito de alerta para a morosidade do poder público em oferecer soluções que contemplem as necessidades dos cidadãos e que permitam um viver tranquilo e planejado, além, é claro, de salvar vidas. Todos os dias presenciamos quer pessoalmente, quer através dos telejornais, a angústia das pessoas doentes, aguardando para serem atendidas em hospitais públicos carentes de leitos disponíveis, ou fazendo parte da famosa fila eletrônica, que se assemelha a um teste de resistência física e mental.  Se o problema não é enfrentado com presteza, cai no esquecimento e vira motivo de desculpas esfarrapadas que só fazem esconder incompetência. No Brasil do jeitinho, medidas importantes ficam em banho-maria e inaugura-se uma pedra que nunca vai virar casa, muito menos hospital, mas que vai consumir muito dinheiro dos nossos impostos.

A propósito dessa demora toda, me solidarizo com as pessoas doentes que recentemente protagonizaram uma polêmica a respeito da liberação de uma droga que supostamente trata vários tipos de câncer e que, embora ainda não testada em seres humanos, dentro dos padrões válidos pelas organizações de saúde, está produzindo efeitos em pacientes que dela fizeram uso, com relatos de melhora considerável. Essa substância foi desenvolvida por um pesquisador da USP e agora está sendo fornecida aos que a solicitam, via medida judicial. Depois de toda essa polêmica e sofrimento, o Ministério da Saúde resolveu criar uma comissão para estudar a eficácia do remédio, que por enquanto nem pode ser considerado medicamento, por falta de testes conclusivos. Existe apenas uma pessoa produzindo a droga e, claro, não consegue atender a toda a demanda.

Exemplo clássico de morte à esperança. Quem está doente, não tem só pressa, tem urgência. Mas criar comissão para estudar o assunto, alivia consciências, independentemente do resultado, ou do tempo que se levar para ele ser apresentado. E quando em discurso, os políticos estufam o peito para dizer que fizeram reuniões, viagens, criaram comissões e diminuíram a fila eletrônica, estão ignorando soluções efetivas e dramas individuais e se apegando a estatísticas frias e manipuladas.  Para mim, enquanto houver gente esperando para ser atendido, o problema não está solucionado. Quem me dera viver o dia em que os eleitos pelo povo pensassem no povo, e cumprissem à risca o princípio da ação em 72 horas.

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