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Reflexões contemporâneas

Se você não viu o vídeo, vale a pena conferir, principalmente nos casos em que se encontre...

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 11/11/2015 às 08:22Atualizado em 16/12/2022 às 21:22
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Se você não viu o vídeo, vale a pena conferir, principalmente nos casos em que se encontre em um desses lugares: pais, filhos, alunos ou professores. A cena acontece na biblioteca de uma escola, onde uma criança de mais ou menos sete anos, em evidente agitação motora, percorre a sala procurando objetos que possa destruir ou derrubar. Vários adultos acompanham passivamente toda encenaçã três professoras e um recreador. Aquele que filma relembra a cada um dos presentes as proibições: não grite com ele, não pegue no seu braço, não tente impedir seus movimentos... Durante todo o tempo a criança joga ao chão cadeiras, mesas, banco de dois lugares em madeira, que aparenta ser bem pesado... Em dado momento ela para, pensa e resolve derrubar os livros que se encontram nas prateleiras. No domingo à noite, em programa de toda semana, assistimos a depoimentos de uma professora, do secretário da Educação e da mãe do aluno. Assim recebemos as informações que nos faltavam: as crianças da sala desta tinham ido à biblioteca para um trabalho e foram encaminhadas pela professora para retornarem, e o aluno em questão se negou a obedecer à ordem dada, entrando em seguida na agitação motora relatada; em seguida o secretário da Educação critica os professores por não terem dado o carinho e a atenção que a criança pedia; por fim, a mãe revela que irá processar a escola por ter exposto seu filho nas redes sociais.

Este é um retrato pontual e atualizado da realidade escolar! A criança sem limites, os professores amordaçados e em “camisa de força”, numa sociedade onde tudo cabe processo judicial. Mas, o desfecho é um alerta: esta criança foi medicalizada pelos famosos “tarja preta” dos quais dificilmente se libertará.

Não iremos questionar o diagnóstico feito, uma vez que só vimos uma cena, porém nesta situação precisa não houve sequer uma atitude dos adultos no sentido de contenção do aluno e, pelo que se diziam, estavam totalmente paralisados pela série de recomendações: não gritem, não segurem pelo braço, não tentem impedir, deixem quebrar tudo porque os pais serão responsabilizados pelas perdas físicas! Focando o universo do aluno, o que ele aprendeu? O processo educativo aconteceu? Infelizmente a resposta é positiva – a criança aprendeu que ela é superpoderosa, que o poder anteriormente nas mãos dos professores e adultos agora está com ela, que não deve ser restringida em suas ações, sejam elas positivas ou negativas, que o mundo está aí para servi-la, para atender a todos os seus desejos! Na tentativa de estender para além do saudável e do possível a proteção aos seus rebentos, os pais adoecem seus filhos, colocando futuramente no social seres fragilizados, despreparados para as pressões e entraves da vida adulta, que acreditam e esperam pela “fada madrinha” que os ampare e atenda todos os seus sonhos!

(*) Ilcea Borba

psicóloga e psicanalista

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