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Coisas de comunista

O que vou contar a seguir não tem nada de original, mas quem disse que vivemos...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 08/11/2015 às 11:47Atualizado em 16/12/2022 às 21:25
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O que vou contar a seguir não tem nada de original, mas quem disse que vivemos tempos originais? Vou confessar uma particularidade minha a vocês: devo ter virado um comunista. Custei a aceitar este fato, e considero até extemporâneo, mas, como se costuma dizer, contra fatos não há argumentos. Ou não?

Eu sei que não sou o primeiro a ser acometido por esse “problema”, e sei que o que vou relatar está longe de ser inédito, mas toda experiência é válida. Então, vamos aos fatos!

Andam dizendo por aí que quem gosta de andar de bicicleta é comunista... Eu gosto de andar de bicicleta e, neste quesito, devo ser comunista desde criança. Nem me recordo que idade eu tinha quando ganhei minha primeira bicicleta. Acho que foi antes de aprender a ler e a escrever. A única coisa retida na memória é que era uma bicicleta vermelha. Olha aí! Acho que meu pai também era comunista, do contrário não teria me ensinado a pedalar e a ter mais equilíbrio na vida.

Outro fat não sou fanático por carnes, muito menos churrascos. Se eu digo isso às pessoas, elas me olham atravessado, como se eu fosse um extraterrestre ou, é claro, um comunista! Quando eu chego num restaurante ou numa festa e informo que não como carne, eu sinto no rosto das pessoas um sentimento de desprezo e de compaixão, como se eu fosse portador de uma doença incurável, quando na verdade o que eu quero é uma vida saudável e uma convivência harmoniosa entre os viventes deste planeta. Mesmo justificando minha escolha, o que seria totalmente desnecessário, as pessoas me olham como se eu comesse criancinhas, que era, segundo dizem, o que faziam os comunistas na Rússia. Compreendem?

É um bocado confuso entender as relações humanas e certos comportamentos. Eu gosto muito de ler e de livros. Quando eu digo que prefiro ler um livro a assistir televisão, lá vem: “Só pode ser comunista!”. E, para não me alongar muito, um último fat acontece quando eu me distraio e afirmo que não gosto de futebol e nem torço por time algum. Só falta me prenderem, torturarem e jogarem a chave fora. Não é fácil a vida de um “comunista”.

Essa história toda me faz lembrar um aluno que tive em São Paulo, nos anos 1970. Ele sempre ficava depois da aula para conversarmos. Um dia, notei que ele estava muito preocupado, circunspecto. Rodeou, tomou coragem e disse: “Professor, o senhor fala muito em democracia, mas acho que não sou democrata e nem consigo entender direito o que isso significa”. Espantado, perguntei o porquê e ele me respondeu citando nomes famosos do cenário político do período, inclusive generais, personagens conhecidos e alguns serviçais truculentos: “Todos se dizem democratas, se isso é democracia e se esses aí defendem esse regime, esse negócio não me serve!”. Pois é! Confuso, não?

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