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Do jeito que o diabo gosta

Insensível! Será que estou me transformando a ponto de me tornar egoísta? Lutei a vida toda...

Marília Andrade Montes Cordeiro
Publicado em 07/11/2015 às 20:34Atualizado em 16/12/2022 às 21:26
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Insensível!

Será que estou me transformando a ponto de me tornar egoísta?

Lutei a vida toda por ideais coletivos e de repente me sinto relutante, individualista, voltada para meus próprios conflitos, e família?

Onde é que ficou perdida aquela mulher idealista, humana, vibrante, que não aceitava injustiças, que comprava brigas dos outros quando os via fragilizados?

Será essa fase é fruto de amadurecimento ou é o cansaço gerado por incontáveis frustrações?

Todas essas indagações me queimaram as têmporas e pestanas nessa semana que estou passando em BH.

Nossa capital, embora não tão perto, presente e ligada aos triangulinos, me acolheu carinhosamente nos últimos 10 anos.

Aqui sempre me senti livre, leve e liberta. Ando por suas ruas a pé, ando de tênis e roupa de ginástica, da Savassi até o Mercado Municipal.

E observo o vaivém dos pedestres, carros e da vida.

Reparar e captar a energia de cada um que passa apressado, momentaneamente domina meu universo.

Por suas vibrações sinto seus desejos, angústias, frustrações, raivas e alegrias.

Mergulho-me nesse mar de emoções.

Cada um de nós é uma ilha vivendo num mar comum, já filosofei!

Mas agora tudo mudou. Já não sinto as almas. Só vejo espectros humanos, pobres indigentes drogados, frustrados e aproveitadores em potencial.

E meu coração se fecha e se arma.

Perdeu-se a cordialidade do Mineiro.

Fica-se em guarda para qualquer tipo de diálogo, atenção ou informação.

- Onde fica a Secretaria...?

- Desculpe! Não sou daqui.

- Dona, me dá um dinheiro pra comida?!

Sei que não é para comida, mas quero ficar livre. E meus olhos rapidamente procuram uma loja como abrigo. Quero voltar para casa!

Não fui só eu que mudei! A cidade também está sentindo a deterioração mórbida e letárgica que domina nosso país.

Acho que estou tendo uma crise de pânico.

Relaxe! Aceite! Nem você deve se curvar diante do mundo e nem tão pouco o mundo mudará aos seus desejos.

Ligo para a amiga de todas as horas:

- “Socorro! Me leve para os braços de Dionísio, com aquele sorriso de orgia e que me livrará de toda essa angústia!”

Não posso mudar meus sentimentos, mas por enquanto tenho que atrofiar essa sensação de impotência.

Depois me curo do êxtase e da ressaca com muita meditação e yoga.

Deixo o projeto de minha vida para o cosmos.

Quem sabe ainda voltarei a assumir posições mais concretas?! Irei até o fim.

Amanhã, penso nisso! Sou mineira, uai.

Mas hoje quero, preciso mergulhar nesse estranho prazer da vertigem!

(*) Mãe de família

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