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A história está em festa

Dia 04/11/2015, vivenciamos fato memorável no Arquivo Público de Uberaba...

João Eurípedes Sabino
Publicado em 06/11/2015 às 21:19Atualizado em 16/12/2022 às 21:26
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Dia 04/11/2015, vivenciamos fato memorável no Arquivo Público de Uberaba, quando ele comemorou seus 30 anos. Fizemos a doação do que sobrou da sede do primeiro jornal diário do interior do Brasil, o LAVOURA e COMÉRCIO.

Quanto foi difícil assistirmos à demolição implacável daquela sede centenária, ali na R. Vigário Silva, n° 45. Cada ferramenta usada por laboriosos trabalhadores era como que se mutilássemos o nosso próprio corpo. Sepultava-se parte da nossa história. Todo o desmonte acabou no dia 21/05/2012.

Duas impressoras linotipo com caldeiras de chumbo pareciam acuadas num canto do terreno. Ofereci-me para ser depositário fiel das “irmãs órfãs”, mas o “progresso” gritou mais alto e não fui ouvido. Sofri ao saber que as duas foram levadas para alto-forno e derretidas. Tive a ideia então de obter uma prancha lavrada de aroeira, sobra do assoalho, que hoje é relíquia exposta no Arquivo.

Gesto simples, reconheço, mas onde estarão outras lembranças do jornal que exercia influência em todos os setores e segmentos de Uberaba região? Espero que mais relíquias, por exemplo, o mural externo da fachada, possam ser doadas ao Arquivo e ficar juntas à edição que perdurou por 104 anos.

O diário que nasceu sob o signo do inconformismo de fazendeiros e comerciantes, daí o seu nome, bateu de frente com a indiferença do Estado e o sistema escorchante de impostos, isso lá em 1899. Declinou em 2003, diante de todos, apesar da luta de seus gestores e do esforço de alguns idealistas. Embora filhos de Uberaba estivessem ocupando altos cargos da República na época, o S.O.S. do Lavoura foi ignorado.

Submetido a leilão judicial, o arrematante do acervo, senador Wellington Salgado, se viu obrigado a levá-lo para Uberlândia sob pena de ser responsabilizado por qualquer dano. No dia 05/12/2008, o parlamentar, diante de várias entidades culturais e autoridades, num gesto de grandeza, doou a Uberaba toda a edição. Antes de ser consumado tal ato, anulou-se o leilão e tudo voltou à estaca zero. Resultad o Lavoura residiu na cidade vizinha por cinco anos. Fui impedido de visitar lá aquelas edições e esse capítulo ainda relatarei.

Devemos tributar todo o trabalho de resgate do Lavoura ao prefeito Paulo Piau Nogueira, seu secretariado, à superintendente do Arquivo Público, Marta Zednik de Casanova, e seus valiosos assessores, representados aqui pelo historiador João Eurípedes de Araújo.

Tenho a certeza de que a história está em festa.

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