Não tive dúvidas. Era mesmo uma ave. Uma pomba trocal. Estava tranquilamente...
Não tive dúvidas. Era mesmo uma ave. Uma pomba trocal. Estava tranquilamente procurando alimentos ali mesmo no meu jardim. Para quem não sabe, trocal é uma pomba selvagem. Vive nas matas e não se próxima dos homens. Não se assustavam com o movimento das pessoas nem do barulho dos carros. Daí meu espanto ao vê-la assim tão de perto.
É estranho o que anda acontecendo. Onde andam as “fogo-apagou? As rolinhas, os joões-de-barro, os tico-ticos?
E os pardais? Viviam às centenas em nosso meio. Tão mansos que entravam em nossas salas de jantar à procura dos grãos que caíam de nossas mesas. Para onde foram eles? Raramente se vê um deles, geralmente sozinho e assustado.
Também as andorinhas desapareceram. Não faz tempo, faziam filas nos fios de nossas ruas. Nas tardes, ficávamos embevecidos vendo-as em revoada, centenas delas, descendo todas como que guiadas por uma “força” única, sem atropelos, rumo às árvores da Praça dos Correios e da ABCZ. Para onde foram elas?
Fomos nós os culpados. A soja e a cana os expulsaram de seu “habitat” natural. Isso sem falar nos inseticidas que empesteiam nossos ares e nossos rios.
No beiral de minha casa, os marimbondos montaram suas casinhas em forma de chuveiros. Uma, duas, já eram cinco. Não os espantei e nem eles agrediam a ninguém. Era como se fosse uma bênção. Aconteceu que um dia passou por minha rua um malcheiroso “fumacê” à cata dos Aedes aegypti. Mataram todos os responsáveis pela dengue. (quase todos...), mas lá se foram os moradores dos chuveirinhos que enfeitavam o meu jardim. De quebra, sacrificaram as abelhas, as mariposas, os louva-deuses, as joaninhas, as libélulas, eliminaram todos os insetos. Será que não existe um meio mais civilizado para matar o mosquito da dengue? Para matar a praga é preciso matar os insetos que alimentavam nossos pardais, nossas andorinhas?
Já faz algum tempo as chamadas “abelhas-europa” visitavam nossos jardins à procura do pólen das flores para fabricar o mel. Onde estão elas? Havia outras, as jataís, minúsculas, mas de saboroso mel. Não vou me esquecer das arapuás. Mel ruim, mas inofensivas.
O Triângulo Mineiro tornou-se um grande canavial. Só se veem cana e soja. Derrubaram nossas florestas, envenenaram nossos rios, desnortearam nossa fauna. O Homem está destruindo nossa Natureza. Motivado pelo dinheiro vai alterando o equilíbrio das leis da obra de Deus. A Natureza se vinga. O Homem não provoca impunemente. As consequências se tornam cada vez mais amargas.