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Água e os micróbios

Na década de 40, a Paróquia da Catedral possuía um grupo teatral. Lembro-me bem...

Padre Prata
Publicado em 04/10/2015 às 12:13Atualizado em 16/12/2022 às 21:59
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Na década de 40, a Paróquia da Catedral possuía um grupo teatral.

Lembro-me bem de três comediantes: o Alaor Gomes, o Heitor Meireles e o Celso de Melo. Parece-me que um filho do Alaor casou-se com a filha de Jânio Quadros, mas não tenho certeza. O Heitor Meireles era o pai do Beta, o melhor centroavante que já passou por Uberaba. Jogava no Independente, tinha o apelido de Flecha Azul. Quanto ao Celso, era irmão do João de Melo, goleiro do Uberaba Sport. A mãe dele, Dona Candoca, dizia ser tetraneta do Major Eustáquio. Não sei.

Lembro-me bem de um diálogo do Celso com o Alaor, engraçadíssimo, comentando o problema da água em Uberaba. Dizia o Celso que a água era boa para tudo, menos para quem morria afogado. Ao que emendava o Alaor: “Então, em Uberaba, ninguém morre afogado, não tem água”.

Como se vê, a água não é problema de hoje. Sempre foi problema. Nossos técnicos no assunto, ontem e hoje, nunca chegaram a um acordo, se nossa água virá do Rio Grande, do Rio Claro, dos poços artesianos ou do Rio Uberaba mesmo. A história da imigração italiana para Uberaba foi considerável e sua queixa da “água ruim” foi criticada em folhetos e antigos jornais. Seus nomes eram conhecidos. Ainda estão entre nós os seus descendentes, os Totti, Frateschi, Martinelli, Faina, Decina, Manzi, Bianchi, Del Papa, Bruno, Fantini, Cezarini, Pucci, Magnabosco, Sivieri, Polastrini, Manzan e muitos outros. Havia, em Uberaba, um Vice-Consulado. Publicaram um tremendo libelo contra nossa água. O título da catilinária era o seguinte: “A questó das aguas. O basticimento nostro, us conzirvatorio, barbuleta, bizorro i otras ave, os migrobios, giacaré, pexe i otros mamífero”. Tudo isso era o título. O corpo do artigo começava assim: “Tutos mundo grita chi nostra água non presta! E io quano dó migna notabile opinió ingoppa de uno assuntino gosto de amustrá chi é verdadi, non presta!”.

Como se vê, a linguagem, num “imbróglio” (mistura confusa de italiano e português), é uma violenta queixa da colônia italiana para com a água de Uberaba, infestada de “bizorro, barbuleta, migrobios e otros mamífero”.

Pelo que se conclui, cem anos atrás, nossa água era pior. Embora os vereadores prefiram água mineral, a água do Codau não é ruim. É uma água bem tratada. Não encontramos nela besouros, borboletas e muito menos jacarés ou outros mamíferos. Mas, por via das dúvidas, há muita gente furando poço artesiano por toda parte. Ninguém anda confiando muito no Rio Claro, muito menos nos políticos que estão propondo água da melhor qualidade, para breve. Melhor mesmo é o otimismo do Edgarzinh “Fure um poço e viva feliz!”.

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