ARTICULISTAS

Ser ou estar idoso?

Algumas vezes nos assustamos com os anos somados no calendário de papel...

Vera Lúcia Dias
Publicado em 02/10/2015 às 22:17Atualizado em 16/12/2022 às 22:01
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Algumas vezes nos assustamos com os anos somados no calendário de papel e que parecem não combinar com lembranças e vivências que nos parecem tão próximas no calendário interno. Ficamos confusos, sem saber se chegamos à Terceira Idade ou se ainda estamos na sua antessala...

Segundo Malcolm Cowley, citado no livro Perdas Necessárias de Judith Viorst, mesmo quando não temos (ainda) doenças mais sérias como artrites, Alzheimer, cataratas, câncer, “derrames” e outras, o nosso corpo tem meios de nos lembrar que estamos ficando velhos, quand temos que fazer passo a passo aquilo que antes fazíamos de forma quase mecânica; aumenta o número de frascos no armário de remédios; deixamos cair com mais facilidade os objetos; hesitamos ao descer um lance de escada; adormecemos durante a tarde; gastamos mais tempo procurando objetos perdidos do que os usamos quando alguém os encontra para nós; sentimos dificuldades para pensar em duas coisas ao mesmo tempo; esquecemos os nomes das pessoas; resolvemos parar de dirigir à noite ou quando tudo passa a ser mais demorado ao ser feito do que antes...

A fronteira entre o ser ou estar idoso é muito pessoal, conforme citamos em nosso artigo anterior, pois, com doença ou sem doença, algumas pessoas sentem-se velhas aos sessenta e cinco anos, enquanto outras aos oitenta anos ou até mais e, apesar de adoecidas, procuram viver o máximo possível.

Observo que cada um envelhece e morre do jeito que viveu. Uns de forma ranzinza e reclamona; outros com leveza e dignidade de fazer inveja.

Há que se considerar também a influência das forças culturais. Aqui, na América, aposentar-se significa perder status e autoestima. A velhice tem ares de tragédia. Os velhos são vistos como assexuados, inúteis, sem força e descartados do jogo. É como se começássemos a envelhecer primeiro pelos olhos de outras pessoas e, então, passássemos a pensar como elas.

As políticas públicas brasileiras e o Estatuto do Idoso procuram modificar esse estado de coisas. Proliferam-se os serviços e iniciativas dirigidas aos Idosos na Saúde, Educação e Área Social. Direitos são garantidos em diversas situações. Estímulos são oferecidos sob a forma de cursos, atividades físicas, danças e arte.

Novas especialidades vão surgindo na Medicina e na Psicologia ou na interdisciplinaridade entre as mesmas e o Serviço Social, a Fisioterapia ou a Terapia Ocupacional.

Não obstante, uma parcela significativa de nossa população idosa vive em situação de penúria, tentando sobreviver com um salário mínimo ou nem isso, é explorada por filhos e netos de forma direta ou indireta, enfrenta filas nos serviços previdenciários ou de Saúde e não desfruta de atendimento digno e humano.

Nossa parcela de responsabilidade na mudança desse quadro é imensa, sob pena de, se não a assumirmos, estarmos em curto prazo, sofrendo descasos em nossa velhice por nossa própria omissão...

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