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Eu, máquina

Vivemos em um mundo corrido, onde a cada passo sentimos o correr dos ponteiros, apontando como o tempo passou

Julia Castello Goulart
Publicado em 28/09/2015 às 09:45Atualizado em 16/12/2022 às 22:03
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  Eu, máquina

Vivemos em um mundo corrido, onde a cada passo sentimos o correr dos ponteiros, apontando como o tempo passou, e não temos mais de um minuto. Cada vez mais o tempo passa, e nos tornamos escravos dos nossos afazeres. Planejo, faço, pausa para o sinal vermelho; faço, planejo, tenho que ser simpática; pausa para comer, planejo e faço. Olho as horas e elas passam e não me esperam, não consigo acompanhar. Eu paro. Quantas pessoas encontrei hoje? Como elas estavam? Não a vi, nem ele. Como estarão?

Por um minuto percebo que mal vi quem estava comigo. Mas como? Eu estava de olhos bem abertos, tomei café e deitei cedo no dia anterior. Não tenho muito tempo para pensar, logo já tenho algo para fazer. Faço, planejo, faço, dá trabalho, insisto, faço, realizo! Agora dou uma pausa. Deveria comemorar! Chamo meus amigos, familiares que mal os vi, e vejo como estão diferentes; como senti falta deles durante toda a semana. Toca o celular. Sim, eu faço. Volto a fazer o que não me deixa sentir, volto. Faço, faço, faço. Mas eu não estava comemorando? Mas para que? Eu não tenho tempo! Tenho muito que fazer.

O tempo passa e meus filhos crescem, já sinto as minhas pernas mais cansadas, mas mesmo assim eu faço, planejo, insisto, e faço. Por quê? O tempo foi o meu maior inimigo, mas mesmo assim continuei dando a máxima importância a ele. Afinal, ele sempre me controlou: hora para levantar, hora para chegar, hora para sair, hora para comer, hora para deitar. Por um instante eu paro. Percebo que já não quero mais parar. Parar me faz pensar, e pensar faz eu me perguntar por que eu faço, por que não desisto para ter tempo?

Faço, mas faço mais devagar. Planejo, mas planejo menos. Realizei muitas coisas. Mas nunca tive tempo. Por um momento percebo meus filhos na mesma correria e sinto falta, a falta de não ter tempo, estar sempre ocupado. O ócio é horrível para aqueles que evitam pensar. Não quero, não posso. O meu eu, se sente perdido e começo a lembrar da época em que eu não tinha tempo. Por que eu reclamava tanto? Não era tão ruim assim! Por um momento quero voltar a ter meus vinte anos e com ele o tempo que eu achava ter e não tinha. Por um momento vejo tudo o que construí, mas nunca parei para me sentir orgulhoso das minhas conquistas, nunca parei para agradecer as pessoas que estavam ao meu lado. Não me lembrava mais de muitos momentos. Mas me lembrava, que eu fazia, planejava e insistia.

Julia Castello Goulart- Estudante

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