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Reter os dons

O egoísmo não deixa de ser também exploração, quando algumas pessoas retêm para si...

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 26/09/2015 às 19:45Atualizado em 16/12/2022 às 22:06
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O egoísmo não deixa de ser também exploração, quando algumas pessoas retêm para si mesmas os dons e os bens que foram criados e doados em benefício da coletividade. Essa forma de agir, que tem sido muito comum no itinerário da cultura capitalista, pode afetar profundamente a justiça social e a ecologia humana. Muitas pessoas ficam descartadas por não ter forças para competir.

No cenário mundial, dentro do contexto da colonização, muitos países ricos sempre exploraram e sugaram as riquezas naturais dos países pobres, não dando a eles oportunidade de desenvolvimento sustentável. Foram práticas de agressão e desvio dos dons naturais, desequilibrando a natureza. Como consequência, temos hoje as migrações em massa de povos em busca de dignidade.

Creio que agora é enfrentar as consequências do egoísmo e da exploração desordenada e pagar a dívida social que os países ricos do norte europeu têm com os países pobres do sul. Eles não podem fechar as portas para os migrantes ávidos de vida digna. A natureza, como se sabe, não perdoa. Mais cedo ou mais tarde ela busca uma forma de sustentação e de equilíbrio no seu ser.

Numa terra de liberdade e de vida, o poder e os bens não podem ser centralizados e manipulados por poucas pessoas. As decisões precisam ser mais coletivas, abertas à participação de todos, mas de forma consciente e responsável. O nível dessa consciência tem sido muito baixo e não ajuda numa administração sustentável.

Os políticos têm medo de ser ofuscados em sua autoridade. Eles ligam autoridade com poder, e poder com ter, ofuscando e prejudicando a vida de grande parte das pessoas na sociedade. Por isto acontecem os desvios na administração, criando desarmonia na história dos povos. Perdem a dimensão de ser servos do povo.

O mundo precisa de mais diálogo. É o que faltava entre Estados Unidos e Cuba. O papa Francisco intermediou esse diálogo, quebrando o egoísmo arbitrário de políticos voltados para o “próprio umbigo”, prejudicando a vida de milhares de cubanos, descartados em sua dignidade.

(*) Arcebispo de Uberaba

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