Brasil, onde está aquele frêmito de emoção patriótica?
Onde está aquele sentimento de solidariedade na dor que extravasa nos momentos de profunda comoção nacional?
Onde está a revolta que une, como a alegria também unificadora, da conquista da Copa do Mundo?
Onde está o sentimento nacional que, em eventos como a derrota da última Copa, marcou a história do povo brasileiro?
Onde está a reação a esta crise atual?
Quem se cala, a mídia, o governo, as elites, o povo?
E o estilo diplomático da atual democracia?
E a persistência da mesma estrutura social respaldada na violência?
E esse sistema de dominação que, não apenas produz efeitos circunstanciais perversos, ao exigir, para sua permanência, o sacrifício de inumeráveis vidas humanas?
Por outro lado, estão presentes a ausência e o silêncio do povo. E para a maioria calada e cinzenta dos anônimos, dos que se deixam levar pela inércia, há cada vez menos pão e mais circo.
Entretanto, o mais grave ocorre com aqueles que sabem ou deveriam saber, os que são informados e informam, os que argumentam com sofisticação.
O homem desta desencantada modernidade encontra-se atordoado, confuso diante da impermanência das atitudes, da precariedade dos valores, da voragem do tempo. As mudanças seguem um ritmo alucinante, imerso na intensidade de seu movimento.
O homem atual vive em um tempo em que a fragmentação e a dispersão dos antigos ideais produzem uma crise de valores morais que se manifesta tanto no comportamento cotidiano quanto na esfera econômica, social e política.
Diante da crise, proliferam-se as demandas por reflexão e discussão ética, à medida que se entende o sintoma como expressão do desvelamento de um conflito. Tal demanda ética parece nascer da própria carência de eticidade na vida moderna, mas, paradoxalmente, representa também uma tentativa de suprir tal falta.
A ética é a teoria que pretende compreender as condutas morais, ou seja, refere-se à reflexão, à elaboração discursiva e conceitual acerca dos comportamentos práticos.
O compromisso ético é intrínseco ao nosso saber e à nossa prática, e mais exigente ainda deve se tornar quando as esperanças esmorecem, as certezas declinam e aproxima-se a noite, em que tudo parece se confundir e se igualar. E como ensina o Evangelho, “é na escuridão da noite que a vigilância se faz mais necessária”.
(*) Psicóloga clínica
