ARTICULISTAS

No limiar

Cada um de nós possui certas produções cinematográficas que nos marcaram

Marília Andrade Montes Cordeiro
Publicado em 29/08/2015 às 19:50Atualizado em 16/12/2022 às 22:32
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Cada um de nós possui certas produções cinematográficas que nos marcaram de um modo bem especial.

Talvez pelo momento que vivemos, ou, quem sabe, pela captação de alguns detalhes sensíveis apenas ao nosso coração.

Emoções contam enormemente quando analisamos algo. Poucos são capazes de fazer uma avaliação puramente técnica. Nem mesmo juízes!

Tenho alguns filmes dos quais sempre me lembro com emoção.

Dr. Jivago e... E o Vento Levou, por exemplo, são bem antigos, mas ainda tão representativos de uma geração. A miséria da guerra e as agruras amorosas marcaram indelevelmente o coração sonhador de adolescentes que viviam embalados pelo manso amor doméstico e pela segurança dos belos campos rurais.

É, porém, uma produção de Richard Donner, de 1985, que sempre que revejo me intriga e me dá o que pensar – Ladyhawke, A Mulher Falcão, ou O Feitiço de Áquila.

Resumo – através de uma maldição, o casal é condenado a viver sempre junto, eternamente separado. Ela, um falcão durante o dia; ele, um lobo negro à noite. Só podem se ver por um fugaz momento ao amanhecer e ao anoitecer.

Sem jamais se tocarem...

A essência das coisas para além do mundo visível!

Seria a cena uma forma mais concreta de abranger as diferentes dimensões espirituais?

Uma forma mais nítida de apresentar a polêmica “Alegoria da Caverna”, de Platão?

Existem especiais e raros momentos no agitado mundo real que chegamos a sentir a eternidade com tamanha intensidade, que logo rechaçamos a sensação, por medo, incompreensão e incapacidade de progredir.

É o feitiço do quase que nos foi lançado...

E assim vejo muitos, homens e mulheres, vivendo na frustração do quase, no limiar. A maldição do quase.

_ “Ela quase foi feliz, mas adiou os próprios planos, para servir à família”...

_ “Ele quase foi um profissional irretocável, mas o medo da solidão o afastou da árdua necessária dedicação por maior conhecimento”...

_ “Foi uma pessoa quase popular, mas havia em seus olhos algo de tão infinito que constrangia as pessoas”...

_ “Ela poderia ter sido uma excelente mãe, mas o desejo de ser independente fez com que sufocasse os hormônios que insistiam em gritar pela maternidade”...

_ “Ele quase se dedicou à música, mas o dever de manter uma família fez com que enterrasse de vez a aptidão musical”...

Quantos de nós não vivemos apenas no limiar!

Fingindo ou brincando de viver...

No decorrer da vida temos alguns “insights” que nos mostram um caminho, quase uma visão de um lendário paraíso perdido.

Ficamos realmente no limiar. Um lado nos atrai, mas o viver nos chama.

E a vida por si só já não justifica o viver?

Cenas que se repetem, escolhas que se fazem, situações que aprendemos apenas vivendo, sem que ninguém possa nos ensinar.

São as escolhas, as convicções, os meios e o medo constante de buscar o equilíbrio que nos tornam tão únicos, tão especiais.

Mas, tão iguais no limiar – da eternidade, do mundo, do infinito, de Deus.

(*) Mãe de família

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