Cansei e tô vendendo

Vi recentemente no facebook o grupo Cansei e tô vendendo. Ideia oportuna que permite uma divulgação online, sem custo e amplo alcance. Nome apropriado porque a gente vende não apenas por necessidade, negócio, dívida, vende também por cansaço, esgotamento, enjoo. Visitando o perfil pensei sobre o significado de tantas coisas e resolvi fazer um apanhado do que já cansei que permanece comigo e anunciar. Então vamos lá. Cansei e tô vendendo a capacidade de ouvir frivolidades, tolerar hipocrisias e artificialismos; consomem seu tempo e sua alma o que, no meu caso, acarreta prejuízo enorme. Enjoei de cumprimentar “amigos” de ocasião que ora acenam ora fingem que não me conhecem, não sei ainda o preço de venda, mas não tem preço livrar-me deles, felizmente não tenho muitos para passar. Obviamente, estes são de queima de estoque. Não vou adquirir outros similares. Tenho à disposição, como oferta de ocasião, um bajulador de ofício, legítimo, de renome, com grife e pedigree que se destaca pela ausência de desconfiômetro. Tudo isto lhe confere padrão de qualidade top, além do tempo de garantia ser indeterminado e com desenvoltura invejável a todos que pretendem seguir seu caminho de baba ovo. Disponibilizo ainda, a preço módico, um recauchutado desmancha roda repaginado e atualizado com as mais inconvenientes, inoportunas manifestações de extremo mau gosto e piadas sem a mínima graça. Estou oferecendo também um bagre ensaboado, vaselina, que se destaca por ter várias opiniões sobre o mesmo assunto. Bom, agora paro por aqui. Já anunciei muita coisa e preciso esperar retorno de quem se interessa por cada item e me preparar para dúvidas e esclarecimentos sobre cada qual. Sei que não são tão fáceis de cair no gosto de consumidores, mas aquela expressão “a mão e a luva”, dá-me esperança de encontrar para cada peça anunciada quem se interesse, leve para si e desfrute do que adquirir como lhe convir. Ah, quanto ao valor que vendo, esqueçam, não tem valor, entrego de graça, com a maior graça. Este é o lucro. Também é bom destacar que não existe presunção, afinal, não somos o que achamos que as pessoas pensam que somos, também não somos o que as pessoas acham que somos e também não somos o que achamos que somos. Somos todos assim, eu, tu, ele, nós, vós, eles achando que vamos encontrar nossa verdadeira identidade. Na verdade, somos relativos, isto é absolutamente inevitável.  

(*) Engenheiro

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