Quem na vida não teve ou tem desentendimentos de leves a sérios com amigos, cônjuges, conhecidos e familiares? Quantas vezes dizemos uma coisa na melhor das intenções e percebemos tardiamente que fomos mal interpretados? O fato é que nossas intenções não são ouvidas, porque o que chega ao outro são palavras, entendidas ao sabor e critério de cada um.
Com o domínio das redes sociais nos relacionamentos humanos, cresceu assustadoramente o número de desentendimentos virtuais e reais. Tudo é muito rápido. Escreveu, publicou, lá vem reação. Até nas publicações banais em que predominam as “curtidas” aparecem sempre vozes destoantes. Isso é normal. A discordância cordial e democrática é salutar. Porém, a linha que separa o bom combate de uma guerra feroz e desmoralizante é muito tênue. Os ânimos estão exaltados e pessoas que se mostram passivas no cotidiano se agigantam no mundo virtual e malham, ofendem, difamam e se afastam deliberadamente do campo das ideias. Estamos diante de mais um paradoxo dos tempos modernos. Temos meios e liberdade para expressar nossas opiniões, mas tememos retaliações, agressividade, patrulhamento ideológico. O recente episódio em que o apresentador Zeca Camargo comentou sobre a morte trágica de um cantor em um acidente de carro é o retrato dos nossos dias. Sobre isso, muitos se posicionaram e muitos outros se exacerbaram na reação. Poucos quiseram realmente “ouvir” a intenção do apresentador. Foi publicado um livro do escritor Jon Ronson chamado “So you’ve been publicly shamed” (“Então você foi humilhado publicamente”) em que ele narra casos de pessoas que tomaram decisões erradas e as viram sair do controle devido à velocidade e ao alcance da internet. São desentendimentos com graves consequências.
No campo político o mais recente e notório desentendimento foi o comentado rompimento entre o presidente da Câmara dos Deputados e a Presidente da República. Poderes se digladiando e se desentendendo, tendo por trás um intenso jogo de interesses. Sou a favor da paz, da liberdade de expressão, da transparência e da verdade. Mas, espero que esse desentendimento político gere frutos a favor da apuração de fatos que sistematicamente têm sido varridos para debaixo do tapete. Oxalá!!!
