Checando a carga

Antigamente, no sistema bancário nacional, uma determinada operação, sem que fosse intenção dos bancos, favorecia o comércio e a indústria: quando as empresas recebiam cheques de cliente e os depositavam, os valores só eram liberados dias (às vezes mais de dez) depois do depósito.

         A cada depósito de cheque, o banco liberava um percentual de seu valor. Quando o cheque tinha fundo, o restante do valor caía na conta da empresa. A operação era tão favorável aos empresários, que, na época, uma comissão de diretores da Aciu - Associação Comercial e Industrial de Uberaba – foi ao Rio de Janeiro, para reivindicar o aumento do percentual liberado quando do depósito de cheques. A empreitada foi bem sucedida. Contudo, essa operação bancária teve seu fim, quando o sistema bancário conseguiu agilizar a operação, tornando a compensação dos cheques quase imediata.

         E algo inesperado aconteceu quando a diretoria da Aciu recebeu a visita de uma comissão de empresários de Uberlândia, que transmitiu a boa notícia aos empresários: cheques seriam liberados em vinte e quatro horas. Apesar dos aplausos para a novidade, uma voz foi contra: a do empresário José Miguel Árabe, inteligente atacadista no ramo de cereais e proprietário, com os irmãos, da Eletro Central.

         José Árabe estava bem fundamentado ao esclarecer a eficiente e criativa estratégia de que se valia em suas negociações: “Não gostei da mudança, pois a medida vai me prejudicar. No sistema antigo, eu comprava uma carga de caminhão de cereais em São Paulo e pagava a compra com cheque. Chegando a Uberaba, nos dias que se seguiam até a compensação do cheque, eu tinha tempo de conferir com calma toda a carga. Com o novo sistema, lá se foram meus dias de folga...”

         O saudoso amigo José Árabe estava com a razão. Verdade seja dita: nem tudo o que parece positivo o é em sua totalidade.