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E o lugar foi resgatado

Caminhei pelo nosso corredor de aço, a avenida Leopoldino de Oliveira, tão bucólica

João Eurípedes Sabino
Publicado em 31/07/2015 às 19:39Atualizado em 16/12/2022 às 23:03
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Caminhei pelo nosso corredor de aço, a avenida Leopoldino de Oliveira, tão bucólica em tempos idos, buscando ver alguma coisa que me irrigasse as vistas tão áridas. Fui brindado com algo bom, que está muito além das minhas quase frustradas espectativas: uma banca de livros sustentada por colunas do mesmo material. Livros às centenas, usados e expostos para a venda acessível ao público. A feira, desde o dia 14/02/2014, está bem de frente onde funcionaram o Cine Metrópole, o Grande Hotel e o lendário Bar Tip Top.

A dona daquele sebo, Ana Luiz Flores, 58, há 16 anos em Uberaba, filósofa na concepção do termo e diplomada em Recife, não se arrisca em dizer quantos livros tem a sua exposição. Dentre vários autores, lá estão Manoel Bandeira, Jorge Amado, Machado de Assis, Mário de Andrade, Olegário Mariano, José Mauro de Vasconcelos, Lima Barreto e outros não menos ilustres.

Recordei-me que para aquele local, não faz tanto tempo, confluia a “nata” da cidade. Modificações de toda ordem lhe impuseram nos últimos 45 anos e a pior delas ocorreu recentemente, quando o setor virou dormitório e mictório públicos. Ainda bem que Ana Luiz Flores nos brindou com sua feira de livros. E o lugar foi resgatado.

Adquiri o livro “El Señor De Sándara”, novela logosófica psicodinâmica, edição de 1959, uma joia rara por R$10,00! Realmente, o livro impresso nunca vai acabar e o interesse das pessoas por ele é contínuo.

De frente para a avenida que já foi tão glamourosa, Ana Luiz dá seu show de vendas, pratica técnicas de marketing e a mim abriu o verb “O livro fechado é um autor morto e, aberto, é decerto sabedoria”. Os quase 30 metros de fachada adormecida não poderiam merecer algo melhor do que um ambiente cultural, das 9h às 17h, de segunda a sábado. Estatísticas revelam que, de cada 45 pessoas visitantes, 15 delas adquirem, doam ou trocam livros. Muito bom!

Ao final do expediente, a feira é desmontada e guardada no mesmo lugar, sem nenhum incidente. Malfazejos a deixam em paz. “Ladrões e vândalos odeiam livros e com isso os meus são poupados”, conclui Ana.

Detalhe: pessoas anônimas passam à noite e deixam livros preciosos, numa demonstração de que deveras aprenderam a lição.

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