ARTICULISTAS

As coisas estão andando muito depressa

Antes da década de 50, quando éramos jovens, o mundo parecia fixo. Imóvel. Não havia mudanças

Padre Prata
Publicado em 26/07/2015 às 11:48Atualizado em 16/12/2022 às 23:08
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Antes da década de 50, quando éramos jovens, o mundo parecia fixo. Imóvel. Não havia mudanças que nos assustassem. O mundo andava mais devagar. Os alimentos eram os mesmos. As crenças eram as mesmas. Os costumes eram os mesmos. Havia mudanças, mas eram devagar.

As mudanças, hoje, o desenvolvimento tecnológico, a substituição dos valores, acontecem numa velocidade que assusta. Está em curso uma aceleração histórica que faz o que pensar. Há muita coisa que acontece longe de nós, quase não afetam nossos hábitos. Mas, quando se dão ao nosso lado, quando alteram nossas vidas pessoais, nos fazem refletir.

Quando se fala em família, hoje, nem sempre se refere àquele tipo de família vivido por nós. Não estou trazendo à lembrança a família patriarcal, dominada pela incontrolável autoridade paterna. Falo da família comum, onde fomos criados. O clima era diferente. Havia um relacionamento de respeito, de maior segurança, de mais permanência. A casa, falo do espaço físico, geográfico, nos dava um sentido de solidez. “A minha casa”, lá onde eu encontrava paz, afeto, segurança. Havia defeitos. Havia muitas coisas imperfeitas, mas as consequências eram menos dolorosas. Eu tinha meu pai. Eu tinha minha mãe. Meus irmãos eram filhos do mesmo pai, da mesma mãe. Ninguém nascia de proveta. Nem se falava em embriões. Os filhos não eram escolhidos nas tabelas da Internet.

Quando se falava em família, pensava-se naquele triângulo básic pai, mãe, filhos. O termo família, hoje, tomou um sentido muito largo. Há muita família assim constituída: pai, pai, filho (adotivo). Ou entã mãe, mãe, filho (adotivo). De família só se tem a casca, o nome. O conteúdo é outro.

Há uma escola sociológica que, explicando a origem da família, afirma que, no princípio, os homens e mulheres andavam em hordas. Todos eram de uma e um era de todas. Às vezes chego a pensar que, mais uns 50 anos, as coisas não serão muito diferentes. É um mau pensamento...

Tudo o que estou dizendo não significa que estou lutando para uma volta à família antiga. Sei que as coisas mudam. Sei que os valores se alteram.

Mas sei também que há um certo limite. Ser moderno não significa derrubar todos os valores do passado. Há uma coisa que se chama sensatez que não pode ser destruída. Seria lamentável regressão viver num mundo de insensatos.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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