Dívidas impagáveis

Esta é a situação dos brasileiros: sessenta por cento têm dívidas, sendo que dez por cento desses não conseguem quitá-las e continuam se endividando; oito milhões perderam o emprego; a inflação corroeu a moeda; e é o consumidor que, pagando contas mais altas a cada mês, está arcando com o prejuízo de bilhões de reais das concessionárias de energia.

E economistas alertam: cartão de crédito e cheque especial cobram juros altíssimos. Como exemplo, juros do cartão dobram a dívida em seis meses. E este é o débito a ser quitado primeiro, uma vez incluído na relação de dívidas.

Um dos episódios da memorável série brasileira de TV – As Confissões de Penélope (1969) retratou a situação desesperadora de quem se vê endividado. O marido (John Herbert), antes do trabalho, entrega um cartão de crédito (novidade, na época) à esposa, Penélope (Eva Wilma), explicando que servia para compras. Voltando do serviço, encontra a casa deslumbrante: móveis novos, geladeira, fogão, sofá... “Como pagou tudo isso?” Inocente, a esposa explica: “Ora, com o cartão de crédito!” Penélope não sabia dist não basta apresentar o cartão; é preciso pagar. O marido dela termina o episódio desmaiado.

É prático e tentador comprar com cartão de crédit basta apresentá-lo e digitar uma senha para ter de tudo; até o supérfluo. Difícil é pagar depois. E a traiçoeira e ilusória opção pelo pagamento parcelado aumenta a dívida e compromete o salário dos meses seguintes. Na verdade, declarar “crédito” no ato da compra com cartão significa “débito” na conta.

Especialistas em finanças tentam colocar na cabeça dos devedores que os procuram um projeto financeiro viável para os pendurados em dívidas impagáveis.

É preciso cabeça fria e pés no chão para não cair nas tentações do consumismo. Na hora do aperto, como muitos apelam para os santos das causas impossíveis – São Judas Tadeu e Santa Edwiges –, a fila já está grande. E dizem que eles já andam falando para alguns: “Caramba! Você aqui de novo?”.