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Os cleptomaníacos estão aí

Era o dia três de junho de 1970. O Brasil iniciava sua campanha para se sagrar tricampeão

João Eurípedes Sabino
Publicado em 17/07/2015 às 20:06Atualizado em 16/12/2022 às 23:16
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Era o dia três de junho de 1970. O Brasil iniciava sua campanha para se sagrar tricampeão daquela Copa. Alguns colegas e eu estávamos na casa de um amigo taxista e nossa Seleção iniciou jogando sob o sufoco da Tchecoslováquia. Petras (8) aos 11 minutos marcou o primeiro gol para eles, caiu de joelhos, se benzeu e ficamos todos mudos. Rivelino logo empatou e, no segundo tempo, Pelé com Jairzinho mudaram o placar para 4X1.

No intervalo do 1° para o 2° tempo, enquanto saboreávamos pipocas, o amigo anfitrião nos contou esta pra nos relaxar: “Eu estava à noite com meu táxi à praça Rui Barbosa, quando um senhor com jeitão de fazendeiro, trajando terno de brim cáqui, calçando botinas de pelica, com chapéu Panamá na cabeça, entrou no meu Opala 1970. – Toca pra rodoviária – disse o homem. Ao chegarmos à praça Dr. Jorge Frange, parei o veículo no setor de desembarque e o cidadão me pagou a corrida, sentado no banco traseiro. Agradeceu-me, abriu a porta do carro e deu um galeio no corpo para sair”.

E continuou o meu amig “Estando o sujeito com meio corpo de fora do veículo, escutei um barulho do tipo grrrrrrrrrrrrrrrrr!!! Desci do carro para ver o que tinha ocorrido. O passageiro estava pasmo e com o bolso esquerdo do paletó literalmente desmontado. Sem me deixar dizer uma só palavra, ele se penitenciou diante de mim, dizend – Seu moço, me perdoa! Eu vi esse nigussim aqui deitado no banco, achei que era uma carteira com alguns cobre e ia levando pra mim. Eu num sô ladrão não!”.

O tal “nigussim”, segundo o amigo, era a fivela do cinto de segurança (pouco conhecida na época) que estava sobre o banco e, ao ser arrastada, arrancou o bolso do paletó do simples homem.

Pergunt se o passageiro não tinha tipo e nem era ladrão, então por que levar um “nigussim” que não era seu? O(a) leitor(a) pensa que esses episódios acabaram? Não. Dia desses usei o táxi do amigo de infância Divino Felipe da Silva e, ao ver o porta-malas com vários objetos esquecidos por passageiros, eu soube da triste realidade contada por ele: “Muitos passageiros esquecem objetos sobre os bancos ou no assoalho. De cada dez coisas esquecidas, oito são levadas por outros passageiros, mesmo sem saber do que se trata”. Na hora, me lembrei do episódio contado há 45 anos pelo meu amigo no intervalo do jogo entre Brasil e Tchecoslováquia na Copa de 1970.

Daí se concluir que os cleptomaníacos sempre existiram e estão aí. Ou não?

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