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A volta

Uma quadrinha popular já mostrava que inflação é coisa bem antiga: Este mundo não vai bem

Mário Salvador
Publicado em 30/06/2015 às 19:05Atualizado em 16/12/2022 às 23:31
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Uma quadrinha popular já mostrava que inflação é coisa bem antiga: “Este mundo não vai bem./ As coisas mudadas estã/ O que valia um vintém/ Agora vale um tostão.”

Em 2008, a inflação no Zimbábue (país africano com baixo Índice de Desenvolvimento Humano) era de 231 milhões por cento ao ano. Hoje, sua moeda em circulação tem quinze zeros. E até setembro deste ano, contas com saldo de zero a 175 quatrilhões de dólares do Zimbábue serão convertidas ao valor fixo de cinco dólares, novo padrão monetário daquele país.

O Brasil não chegou a esse extremo, mas o monstro da inflação ataca o país novamente. Preços de produtos são remarcados amiúde, e o mesmo valor em dinheiro que antes enchia de compras um carrinho de supermercado hoje o deixa quase vazio. Como todo consumidor tem optado por produtos mais em conta, até esses artigos sumiram do comércio.

Na tentativa de combater a inflação, enfrentamos, desde 1942, a maior troca monetária de todos os tempos no mund cruzeiro (primeira vez), cruzeiro novo, cruzeiro (segunda vez), cruzado, cruzado novo, cruzeiro (terceira vez), cruzeiro real, real (em vigor desde 1994).

Essa troca de padrão monetário envolveu situações complicadas: confisco de contas, ação dos fiscais do Sarney, aplicações no overnight (o dinheiro aplicado no banco apresentava, de manhã, seus rendimentos noturnos), aplicação de tablita no pagamento de débitos (parcelas de compra a prazo iam reduzindo, podendo, as últimas, chegar a valores irrisórios). Eram formas ilusórias de combate à inflação desenfreada.

Com tantas mudanças de padrão monetário, sempre sobrava, em casa, alguma nota do padrão anterior. Em tese, quem tivesse duas cédulas de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros) – com a estampa de Mário de Andrade -, seria um milionário.

Outro fato curioso é que a nota de mil cruzados foi reaproveitada pela Casa da Moeda. A cédula antiga, que só havia circulado por três anos, recebeu um carimbo triangular, passando a valer um cruzado novo. Economia em tempo de crise: aproveitaram o imortal Machado de Assis que figurava na cédula.

O fim da história é que o monstro da inflação caiu na real (ou no nosso real) e acordou. Ruim para o país; péssimo para o povo. Cabe ao governo, um tanto já sem rumo e sem prumo, a missão de aniquilar esse monstro; ou, ao menos, colocá-lo para dormir. Já chega.

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