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Premeditação

Há um preconceito com a premeditação, tudo deve decorrer da expressão crime premeditado

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 27/06/2015 às 09:15Atualizado em 16/12/2022 às 23:33
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Há um preconceito com a premeditação, tudo deve  decorrer da expressão “crime premeditado”. Certamente, que premeditar um crime, geralmente trazendo por isso uma reflexão precedente, maldosa, muitas vezes com requintes de crueldade, firmemente importa numa antipatia maior pelo ato, que não foi fruto de um impulso, mas de um pensamento curtido, avaliado e praticado. Acaba mais cruel e repelido por guardar em si uma ruindade ruminada, que importa em capricho tirano do ato do criminoso.

Mas, premeditar nada mais é que pensar antes. Meditar antes.

A premeditação deveria ser atitude de todos, destinada ao bem, todavia. Quantos desastres seriam evitados na premeditação dos atos. Meditar é considerado ato valoroso; premeditar importa em antecipar um pensamento, prever, desviar de atos culposos. Projetar, desenhar o que fará, pensar antes de falar, de agir, é iluminar-se.

Ir praticando atos a esmo, sem reflexão, sem medidas de consequências, em regra gera estragos na vida pessoal e na vida dos que estão ao seu entorno. A palavra que vai não volta e pode deixar feridas para sempre. Ainda que solicitado o perdão, a cicatriz vai ficar como marca indelével para ambos. Mormente quando o que se diz reclama desculpas, é porque fora opinião injustamente emitida. A que causa mais dor. Por outro lado, viver sem pensar é como vagar sem existir, navegar sem rumo e sem destino, sem ser. Seria o mesmo que não degustar da vida. Não avaliar os sentimentos, não absorver as emoções traduzidas em pensamentos meditados na alma do ser.

Qualquer prevenção já ajuda. Longamente meditada, quando possível, e eventualmente necessária, ou mesmo aquela que é arquitetada em segundos, em avaliação imediata por falta de tempo permissivo para análise mais alongada. Melhor que nada. Um, dois, três segundos que sejam, caso não se aprofunde em meditar a existência. Afasta mais da necessidade dolorosa do arrependimento. Evita prejuízos de vida ou até mesmo acidentes materiais, como ao se dar uma olhadela ao passar pelo sinal de trânsito, ainda que permissivo para você. Suportar a consequência do ato não planejado, para o qual não estava preparado, é dor maior. Inconsequência.

Pensar antes, ajuda a escolher bem as palavras para destiná-la às suas intenções amorosas ou mesmo de repreensão, sem exceder em seu peso, ao contrário, chegando próximo ao ideal visado. É medida de sabedoria. Nunca se ouviu uma lenda em que o sábio respondesse de imediato. Por mais singela a pergunta, ele pensa, analisa se não há armadilha até na própria aparente inocência da questão.

O imediatista geralmente não tem tempo para polir seus atos com as bordas requintadas da razão. Não põe em seus gestos e atos o aroma e a doçura da maturidade. Não filtra os sentimentos, emoções, não subtrai a vaidade de seus procedimentos. Acaba apostando no acaso que se acasala com seu praticar. Fica arrogante na certeza suposta de sua segurança íntima, não revista.  Até mesmo o ato imediato, por necessário, de alguém que traz consigo o hábito de premeditar, carrega na retaguarda latente o reflexo da experiência já acumulada. É necessário treinar  meditar,  premeditar, para tanto. Traz pelo menos um ínfimo de refexão final.

Portanto, reflita, pense, medite, premedite, se possível mesmo que um instante antes de cada ato, cada gesto, cada passo, cada resposta. Seguramente, quanto mais perto disso chegar, verá que valerá muito nos resultados de seu viver, de seu existir. É certo.

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