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Chico 71

O ano, não me recordo exatamente. Creio que 1966 ou 67. Volto com o distante olhar

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 23/06/2015 às 19:50Atualizado em 16/12/2022 às 23:37
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O ano, não me recordo exatamente. Creio que 1966 ou 67. Volto com o distante olhar de 2015 e me pego ouvindo a Banda passar. Criança, escutava o LP que os irmãos um pouco mais de idade costumavam colocar na extinta eletrola. Foi por ali que me iniciei Chico. Adorava ouvir e cantar algumas de suas músicas, que, na idade que tinha, criança, não era costumeiro. Mas me soava tão gostoso e melodioso que fui ficando cada vez mais atraído. Minha saudosa e querida mãe adorava Carolina e, ouvindo-a cantar, também me pus a aprender a letra, claro que não me arvorava interpretar e entender. Intrigava-me, o tempo passou na janela e só Carolina não viu. Era uma harmonia que já dava sentido e dizia muito para mim. Fico aqui recordando e vem tanta música, letras incríveis que se misturam umas com as outras. Vem a Rita e leva o amor e o sorriso, mas chega Madalena e já logo vai pro mar e Cristina que sabe-se lá se vai voltar. Ana de vinte minutos, da brasa dos brutos na coxa e Beatriz pra não andar com os pés no chão. Nunca é tarde, nunca é demais. Bárbara vem me buscar, enquanto Helena dorme. Rosa, bandida, cadê minha estrela guia. Tereza esta tristeza não tem solução, não me espere não. Olha Maria pra minha surpresa, pra minha tristeza precisas partir. Nina me nina, acabou, esqueceu que morro de amor. Me escuta Cecília, mas eu te chamava em silêncio. Sabia que um dia você ia acontecer, Lola. Nem uma brisa soprou enquanto Renata Maria saía do mar que faz maré cheia pra ficar mais perto de Januária na janela. Morena, dos olhos d’água, tira os seus olhos do mar, vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra lhe dar. Quem são essas mulheres? São batismos de Chico. Criaturas de Chico facetadas em versos e versões. Inspirações que nos dão enredo, roteiro, imaginação para podermos falar com cada uma das que fizeram e das que fazem parte de nossas vidas. Vamos sintetizá-las em Angélica. Quem é esta mulher que canta sempre esse estribilho? Só queria embalar seu filho que mora na escuridão do mar. Cantar a mulher e à mulher dois predicados de seu inesgotável talento. Este é o velho Chico, intransponível, eterno, de unidade nacional. Permite-se navegá-lo por um bom tempo. Indecifrável, mesmo de posse das melhores cartas náuticas. Viva, Chico Buarque, setenta e um anos de idade e mais de meio século de intensa criatividade.

(*) Engenheiro

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