Papai nos ensinou: “É preciso saber como, e a hora certa de mexer em caixa de marimbondo. Caso contrário você sai inchado, dolorido e não alcança seu objetivo.”
Às vezes, esses pequenos insetos invadiam nosso território e nos molestavam terrivelmente. Sem chance de convivência pacífica, em nossa mangueira preferida, nossa casinha de bonecas ou nosso lugar secreto.
E lá íamos nós, as irmãs mais velhas, ele e um ajudante para a grande aventura. Carregando uma vara de bambu, bem comprida, um pedaço de pano embebido em querosene e uma lamparina para acender a tocha e... fogo neles!
Tudo muito estudado para que não desse errado.
Essa foi uma das lições que trouxemos para a rotina diária da cidade. Hora certa, momento certo, ferramentas certas.
Existem situações e assuntos que são tão polêmicos que muitos refutam qualquer tipo de atitude, temendo serem mal-interpretados.
O preconceito é um deles.
Quero me referir à Parada Gay que cobriu a maioria das grandes cidades do Brasil no último dia 7 de junho. O que se viu foi uma total falta de harmonia com o tema e o objetivo final.
Ou seja, mobilizar a sociedade... a favor.
Há que se deixar claro que sou adepta do direito de livre manifestação, mas creio que regras, limites e bom senso são essenciais.
Para qualquer tipo de manifestação pública faz-se necessário respeitar minimamente padrões de conduta ética e moral.
No entanto, o que se viu foi um grito insano de agressividade coletiva. Demonstrações e exibições dignas de cenas do inferno de Dante. Ou ainda, dos bacanais romanos que levaram à queda do glorioso império.
E a presença de crianças, sejam elas filhas, netas ou parentes dos manifestantes, é abominável.
Vivemos num país ainda extremamente preconceituoso. Não há como negar a discriminação latente contra portadores de necessidades especiais, negros e gays.
E por isso tais temas têm que ser debatidos seriamente.
Esfregando a sexualidade na face da sociedade não é o caminho. Soa mais como escárnio, deboche e provocação. Se queriam chamar a atenção e chocar conseguiram!
Mas, o objetivo a ser atingido, que creio, seja o dever de serem reconhecidos como cidadãos dignos e jamais marginalizados, foi ferido.
Tenho grandes amigos bi, hetero, homo, gays, sei lá. Jamais os classifiquei! Me importa como conduzem a vida. Eu os respeito e os admiro, por estarem aí transpondo barreiras.
Ouso dizer que uma das grandes emoções que tive ultimamente foi presenciar o casamento da filha de uma amiga com outra linda garota.
O carinho, respeito, elegância e ternura demonstrados por elas me levaram às lágrimas e à certeza de que devo sempre orar por elas, para que vençam os grandes desafios que, com certeza, virão. E também, a certeza de que ainda vão chorar muito.
Há um longo caminho a ser percorrido. Preconceitos só serão vencidos através de atitudes sérias, coerentes. Sem vulgaridade.
O resto é carnaval e picadas doloridas.
(*) Mãe de família