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Caixa de marimbondo

Papai nos ensinou: É preciso saber como, e a hora certa de mexer em caixa de marimbondo

Marília Andrade Montes Cordeiro
Publicado em 20/06/2015 às 19:01Atualizado em 16/12/2022 às 23:39
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Papai nos ensinou: “É preciso saber como, e a hora certa de mexer em caixa de marimbondo. Caso contrário você sai inchado, dolorido e não alcança seu objetivo.”

Às vezes, esses pequenos insetos invadiam nosso território e nos molestavam terrivelmente. Sem chance de convivência pacífica, em nossa mangueira preferida, nossa casinha de bonecas ou nosso lugar secreto.

E lá íamos nós, as irmãs mais velhas, ele e um ajudante para a grande aventura. Carregando uma vara de bambu, bem comprida, um pedaço de pano embebido em querosene e uma lamparina para acender a tocha e... fogo neles!  

Tudo muito estudado para que não desse errado.

Essa foi uma das lições que trouxemos para a rotina diária da cidade. Hora certa, momento certo, ferramentas certas.

Existem situações e assuntos que são tão polêmicos que muitos refutam qualquer tipo de atitude, temendo serem mal-interpretados.

O preconceito é um deles.

Quero me referir à Parada Gay que cobriu a maioria das grandes cidades do Brasil no último dia 7 de junho. O que se viu foi uma total falta de harmonia com o tema e o objetivo final.

Ou seja, mobilizar a sociedade... a favor.

Há que se deixar claro que sou adepta do direito de livre manifestação, mas creio que regras, limites e bom senso são essenciais.

Para qualquer tipo de manifestação pública faz-se necessário respeitar minimamente padrões de conduta ética e moral.

No entanto, o que se viu foi um grito insano de agressividade coletiva. Demonstrações e exibições dignas de cenas do inferno de Dante. Ou ainda, dos bacanais romanos que levaram à queda do glorioso império.

E a presença de crianças, sejam elas filhas, netas ou parentes dos manifestantes, é abominável.

Vivemos num país ainda extremamente preconceituoso. Não há como negar a discriminação latente contra portadores de necessidades especiais, negros e gays.

E por isso tais temas têm que ser debatidos seriamente.

Esfregando a sexualidade na face da sociedade não é o caminho. Soa mais como escárnio, deboche e provocação. Se queriam chamar a atenção e chocar conseguiram!

Mas, o objetivo a ser atingido, que creio, seja o dever de serem reconhecidos como cidadãos dignos e jamais marginalizados, foi ferido.

Tenho grandes amigos bi, hetero, homo, gays, sei lá.  Jamais os classifiquei! Me importa como conduzem a vida. Eu os respeito e os admiro, por estarem aí transpondo barreiras.

Ouso dizer que uma das grandes emoções que tive ultimamente foi presenciar o casamento da filha de uma amiga com outra linda garota.

O carinho, respeito, elegância e ternura demonstrados por elas me levaram às lágrimas e à certeza de que devo sempre orar por elas, para que vençam os grandes desafios que, com certeza, virão. E também, a certeza de que ainda vão chorar muito.

Há um longo caminho a ser percorrido. Preconceitos só serão vencidos através de atitudes sérias, coerentes. Sem vulgaridade.

O resto é carnaval e picadas doloridas.

 (*) Mãe de família

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