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Para que servem as árvores?

Hoje, quando muitos comemoram o Dia do Meio Ambiente, é bom saber que somos

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 07/06/2015 às 12:41Atualizado em 16/12/2022 às 23:50
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Hoje, quando muitos comemoram o Dia do Meio Ambiente, é bom saber que somos cerca de sete bilhões de pessoas no mundo. Sete bilhões de indivíduos vivendo, trabalhando, consumindo, amando, lutando, brigando por um lugar ao sol e tentando sorrir quando vê uma envergonhada gota de chuva.

Difícil imaginar tanta gente? Então, imaginem um saco com sete bilhões de ervilhas dentro, verdinhas, redondinhas. Vejam que, mesmo sendo muito parecidas, não existem duas iguais. Se tiverem oportunidade, ainda que seja com meio quilo do grão, e antes de fazerem uma bela sopa, olhem com calma, observem bem, se preciso usem uma lupa. Vejam o quão diferentes são as tais ervilhinhas, e os humanos!

Os apressados, aqueles a quem falta um pouco de doçura na vida, os que não ligam a mínima para a poesia, para as artes, aqueles que costumam desviar-se do seu caminho só para esmagar uma reles formiguinha na calçada, insistirão na inutilidade da observação. Esses são sempre os primeiros a negar um gesto de carinho a uma criança, são os que chutarão um cachorrinho se o pobre animal cruzar-lhe o caminho, são os primeiros a defender que se cobre pela água, pela educação, pela alegria e, para serem coerentes consigo próprios, fazem de tudo para se tornarem juízes e guardiões da utilidade das coisas, e da tristeza, por uma questão de princípio. Defendem a pena de morte e comeriam dinheiro se soubessem como temperar papel sujo, moedas e cartões de plástico. São incansáveis, são traiçoeiros, falta-lhes a criatividade que liberta, são gananciosos. Não me julguem um ranzinza, estou tentando enxergar o mundo com um pouquinho de racionalidade, a crua visão que alguns nos querem impor, nada mais.

Nesse sentido, discutir a utilidade das coisas é um exercício complicado, subjetivo e, às vezes, até insensato. Acredito que deve ser mais complexo do que discutir sobre a liberdade, sobre o amor, o futebol e o sexo dos anjos. Mas não é porque é complexo e inútil que não se deve discutir, correto?

Então, vamos falar de árvores. Úteis? Bonitas? Feias? Desprezadas... Pra que servem as árvores? Alguns diriam: só servem para sujar as calçadas limpinhas das ruas chiques... Não! Elas abrigam pássaros livres para voar. Estão cheias de galhos, que têm o péssimo hábito de cair sobre cabeças pensantes e outras nem tanto. Cortem as árvores! – diriam outros. Elas produzem flores! Elas são subversivas! Elas são desiguais, com exceção das assépticas e militares lavouras de eucaliptos e bem-comportados pinheiros. Elas são rebeldes, só causam transtornos, cortem!

Saberão conviver as pessoas e as árvores? Por quanto tempo? Terão elas, as árvores, alguma coisa a nos dizer sobre o mundo? Sobre o nosso passado comum? A nos ensinar algo sobre o futuro? Ainda que fossem inúteis, é preferível a riqueza e a diversidade da vida à boçalidade útil que alguns querem impor.

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