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Boato

Cada meio de comunicação tem ou teve seu momento de glória: televisão, rádio

Mário Salvador
Publicado em 02/06/2015 às 20:23Atualizado em 16/12/2022 às 23:54
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Cada meio de comunicação tem ou teve seu momento de glória: televisão, rádio, jornal, telefone, internet e até telegrama e carta (os últimos já um tanto obsoletos).

E, em tese, todos eles, bem como a conversa boca a boca, encerram a possibilidade de se transmitir uma mensagem específica, poderosa, mas cruel: o boato. O boateiro é um tipo reconhecido facilmente; parece ter desenvolvido técnicas capazes de atiçar a curiosidade alheia e sempre está pronto para anunciar a mediocridade que lhe queima a língua: “Você já sabe?”; “Sabia que fulano...”; “Puxa! Nunca pensei que o fulano...”. E então, sem ética alguma, narra algo, regra geral, sem confirmação, que versa sobre terceiros. A mensagem pode até encerrar uma verdade, porém pode ser uma mentira passada como verdade.

O fato não é nenhuma novidade. E ocorre no mundo todo. Machado de Assis abordou esse tema no conto Quem conta um conto, que faz uma crítica social com tom de humor: A uma roda de amigos chegou um rapaz contando um boato envolvendo uma senhorita. Não sabia ele que, na roda, estava justamente um tio da senhorita citada. Inquieto, o tal tio quis saber quem era o autor daquela mentira. O fofoqueiro disse que um amigo lhe passara a história. E diante desse fato, passa a ser obrigado pelo tio da moça a ir procurando de boateiro em boateiro até chegar ao autor da mentira. Para espanto do tio da moça, o primeiro boateiro era um amigo íntimo, que viria a confirmar ter ouvido o mexerico da boca desse mesmo tio. Cada vez que foi recontada, a novidade ganhou novos detalhes até se transformar completamente. E tudo partira de uma frase mal interpretada pelo amigo... Antes o tal tio tivesse ficado calado... Não teria dado asas a tanta imaginação!

O conto de Machado continua atual. Afinal, o boato existe e sempre existiu; parece até um costume para muitos... digamos... profissionais. Assim se comporta a sociedade. Diante desse inegável fato, é preciso criticidade para não se acreditar inocentemente em tudo o que se ouve. E ser ético o bastante para não repassar certas histórias e, melhor ainda, não as ouvir.

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