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Enganos e Desenganos

Nosso dia a dia é repleto de enganos. Enganamos o nome das pessoas, o autor de um livro

Márcia Moreno Campos
Publicado em 31/05/2015 às 11:20Atualizado em 16/12/2022 às 23:55
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Nosso dia a dia é repleto de enganos. Enganamos o nome das pessoas, o autor de um livro, o intérprete de uma música, o remédio receitado. São enganos desculpáveis e na maioria das vezes engraçados. Constantemente, em especial nos dias de muito calor, atendo ligações no meu celular em que alguém pergunta esperanços – “é o Rone?” – “Não, não é o Rone, você se enganou”, respondo. Qual não foi minha surpresa quando precisei de uma pessoa para instalar um aparelho de ar condicionado e me indicaram o Rone. Ao tentar entrar em contato com ele, por celular, descobri o motivo de tantos enganos. Nossos números são quase idênticos, apenas a ordem de um algarismo trocada, e ele, dificilmente, atende o celular, por ser muito ocupado. Então, vira e mexe, às vezes em momentos inoportunos, eu tenho que reafirmar que eu não sou o Rone. Já o meu telefone fixo é parecido com o número do telefone de uma farmácia. Aí os enganos são piores. Já recebi ligação de madrugada em que alguém pergunta se é da farmácia e eu, coração de mãe sempre preocupado, entendo se é a Marcia, e quase morro de susto, esperando notícia ruim, para então ouvir uma pergunta simples sobre o que tomar para dor de garganta, se antibiótico ou anti-inflamatório. Minha resposta é impublicável.

Mas, saindo do campo dos enganos, passemos para o dos desenganos. Esses são doídos, machucam, emudecem nosso entusiasmo de viver. Quantos desenganos experimentamos ao longo da vida? Coisas que contávamos como certas não acontecem; expectativas são frustradas; amigos nos decepcionam. Ando desenganada com a Política, com os seres humanos ávidos de poder e dinheiro, e com o rumo que tomou nosso país. Decepcionada com pessoas inescrupulosas, falsas, mesquinhas. Desengano que me envolve ao ver tanta deslealdade, inversão de valores, com o esperto se dando bem e o trabalhador pagando a conta. Esses desenganos diários povoam nossas vidas. Pra que tanta vaidade, ganância e interesses inconfessáveis? O Bem é um atributo isolado. Ele não pode vir acompanhado de nenhuma outra justificativa menos nobre. Fazer o bem visando reconhecimento ou recompensa o embaça. Estão faltando verdade no mundo, transparência, definições.

Desengano também com a impunidade que se perpetua graças a um emaranhado de recursos jurídicos em que aquele que pode pagar bons advogados se safa, e o pobre vai para a cadeia por muito pouco. Descrença quando, para compensar rombos causados por má administração, o governo corta recursos das áreas da Saúde e Educação, que já são tão carentes. São muitos os desenganos que experimentamos. Diante deles, prefiro os enganos leves e inconsequentes e prometo atender quantas vezes for preciso meu celular, para responder com cordialidade que eu não sou o Rone. Bem mais fácil.

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