ARTICULISTAS

Davi e Golias

O local era próximo a uma piscina de ondas artificiais, onde várias pessoas se deleitavam

João Eurípedes Sabino
Publicado em 29/05/2015 às 20:19Atualizado em 16/12/2022 às 23:57
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O local era próximo a uma piscina de ondas artificiais, onde várias pessoas se deleitavam na água revolta. Outros tomavam banho de sol e eu me ocupava da cena que narro a seguir:

A poucos metros de mim, um garotinho que, pelo jeito, deveria ter no máximo três anos de idade. Junto àquela criança estava seu pai, um homem de quase dois metros de altura e nos braços tinha um bebê do sexo feminino. A mãe das crianças brincava na água enquanto os três a esperavam.

De repente, o garotinho, sentindo-se meio só, botou a boca no mundo e, chorando, chamava incessantemente pela mãe. O pai tentou acalmar o menino, porém sem sucesso. Perdeu a paciência (que decerto já não tinha) e, sem nenhum afeto, desancou a lhe dirigir palavras em tons de ameaças. Depois se afastou de perto do filho.

O menino chorava, chorava e o pai, homenzarrão, só lhe ordenava que viesse para perto. E o pequeno resistia com o rostinho todo banhado de lágrimas.

A cena lembrava o embate entre o jovem israelita Davi e o gigante filisteu Golias. Aquele pai, todo senhor de si, acabou depois se desorientando literalmente e ficou “nas mãos do menino”. Por pouco não interferi a favor da criança, quando o enfurecido homem ordenou que ela o acompanhasse. O frágil menino, exposto à plateia, só saiu dali quando quis. Seu pai ficou imobilizado e, embora sem nenhum ferimento parecesse, como eu disse, com o gigante Golias derrotado.

Sabendo que o pensamento é entidade psicológica, metafísica e autônoma que se autoenergiza quando é contrariada. Sabendo também que essa entidade, mesmo sendo incorpórea, tem força e pontaria muito mais acuradas do que a atiradora usada por Davi contra Golias. Diante disso, só ocorreu uma coisa: os próprios pensamentos do gigante debilitado o levaram a nocaute. Eu imaginei aquele pai deitado na lona.

O menino, depois de tudo, foi aclamado vencedor, e seu pai não teve outro papel a cumprir senão o de reconhecê-lo como tal.

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