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Entre Lula e José Mujica

Em várias oportunidades, Lula enfatizou o relacionamento que mantinha

Aristóteles Atheniense
Publicado em 21/05/2015 às 19:13Atualizado em 17/12/2022 às 00:04
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Em várias oportunidades, Lula enfatizou o relacionamento que mantinha com o ex-presidente uruguaio José Mujica, como se estivessem unidos pelos mesmos princípios que adotaram em seus países.

Embora ambos estivessem imbuídos do credo socialista, isso não significa que cultivassem os mesmos ideais no exercício da atividade governamental.

Mujica, desde jovem, participava de saraus literários e conversas sobre temas filosóficos nos Cafés. Ao terminar os estudos no Liceu, tentou a advocacia, que considerava uma carreira promissora, sem chegar a ultrapassar o primeiro ano do curso em que se matriculou.

Durante os quatorze anos em que esteve preso, devido à sua atuação política, atendendo à recomendação de uma psiquiatra, dedicou-se à leitura e a escrever. Começou com livros básicos de Química e Física, depois passou a ler temas de Biologia e estudos de Agronomia. 

Os conhecimentos adquiridos na prisão de Santa Clara de Olimar lhe foram úteis mais tarde, quando se tornou Ministro da Agricultura.

Em 1994, quase dez anos após a sua libertação, Mujica candidatou-se a deputado. O guerrilheiro foi substituído pelo político, cuja arma principal era a palavra. Essa transformação foi marcada de fatos expressivos e até pitorescos.

No primeiro dia em que se apresentou no Congresso, os seguranças do edifício não quiseram deixá-lo entrar, pois a sua roupa e seu aspecto de agricultor destoavam da apresentação sóbria dos outros congressistas.

Ao assumir a Presidência, proferiu um discurso emocionado, prometendo “governar para gerar transformações a longo prazo”, anunciando que os quatro eixos que definiriam a sua ação de governo seriam educação, energia, meio ambiente e segurança, sublinhand “Educação, educação, educação. E, outra vez, educação”.

A seu ver, “os governantes deveriam ser obrigados, todas as manhãs, a preencher quadros-negros como na escola, escrevendo cem vezes: tenho que cuidar da educação”.

Assim, melhorar a educação foi o seu principal objetivo, pois, ainda que não obtivesse o resultado desejado, reiterou a importância da instrução das crianças que assumirão as rédeas dos países no futuro.

Como participante da Cúpula Mundial Rio+20, Mujica definiu o seu próprio estilo de vida, ao afirmar: “Pobre não é quem tem pouco. Pobre é quem precisa de infinitamente muito e deseja cada vez mais. É um costume de caráter cultural”. Daí haver sustentado, com absoluta convicçã “Eu não faço apologia da pobreza, nem defendo que todos fiquem quietos e voltem à época das cavernas”.

Esse pensamento foi traduzido em políticas de fomento aos investimentos externos, de garantia de segurança jurídica para os investidores, moderação fiscal com o rígido controle dos gastos públicos, investimentos em grandes obras de infraestrutura e desenvolvimento de projetos na área energética.

Ao final de sua gestão, o Banco Mundial reconheceu o bom desempenho econômico do Uruguai, que manteve taxas altas de crescimento, superiores à média sul-americana; níveis baixos de desemprego (6,5%) e alto nível de igualdade de oportunidades em termos de acesso a serviços essenciais, sobretudo na educação, água potável, eletricidade e saneamento básico.

A revista “The Economist”, em 2013, elegeu o Uruguai como sendo o país do ano, embora o conceito que aquela publicação faça do governo petista no Brasil não esteja identificado com os resultados que José Mujica obteve como presidente daquele país. 

(*) Advogado, presidente da Academia Mineira de Letras Jurídicas

Twitter: @aatheniense

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