ARTICULISTAS

A palavra mal dita

Por ser difícil de falar, de escrever, de entender... por evocar triste memória, acirradas opiniões

Márcia Moreno Campos
Publicado em 03/05/2015 às 12:06Atualizado em 17/12/2022 às 00:17
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Por ser difícil de falar, de escrever, de entender... por evocar triste memória, acirradas opiniões prós e contras, a palavra mal dita ou maldita do momento é impeachment. Juristas têm se manifestado através da mídia com conclusões que nos remetem à legalidade do ato. Políticos e muitos jornalistas discordam, por não verem, por ora, fato concreto que o justifique e, acima de tudo, por temerem o que vem depois.

Sem querer entrar no mérito constitucional, desejo fazer conjecturas sobre o momento atual pelo que passa o país e um utópico segundo momento, em que a Presidente seria afastada. Pelas pesquisas de opinião divulgadas por alguns institutos, 60% da população desaprova a presidente. Apenas 13% a consideram boa/ótima. Sendo assim, é de se supor que a maioria se sentiria satisfeita se vingasse o processo de impeachment. E o que vem depois? Na verdade, não tenho bola de cristal, mas me baseio na crença de que pior do que está não fica. Acredito que os atos de um ser humano têm a dimensão do seu dono. Não é justo esperar atos grandiosos de pessoas pequenas. Não se extrai leite de pedra, já diz o ditado. Aqueles que torcem para que a Presidente acerte o rumo e sugerem medidas que ela não toma e nem quer tomar, esquecem que ela não consegue ir além de sua capacidade, que já se esgotou. O que se esperar de um líder de uma nação que só age depois de consultar um rei já fora do posto? Como é que uma pessoa incapaz de formular uma frase coerente pode articular fórmulas eficientes que gerem confiança na população? Nem com todo o marketing e aparato do mundo isso se tornará viável.

Dizem os contras que ela foi eleita dentro da legalidade, num processo legítimo de democracia. Pelo que se vê hoje, escancarado pela operação Lava Jato, essa legitimidade é questionada, já que o financiamento das campanhas eleitorais foi em grande parte com dinheiro desviado da Petrobras e de outras empresas, em um fluxo nada democrático de explícita corrupção. Essa propaganda maciça e enganosa que levou à vitória é legítima? Merece ser respeitada? No país do jeitinho, do improviso, da ingerência do Estado na vida do cidadão, será que não se descobre uma forma de dizer para a Presidente que ela não está correspondendo, que perdeu a autoridade, que não lidera nada, que gasta mal, que se ilude no papel de “gerentona”, quando na verdade quem decide é o outro? Vamos deixar o país afundar cada vez mais?

Dizem que dinheiro não aguenta desaforo. O que se tem gastado com incompetência e corrupção é assustador. Irredimível. São índices que levarão décadas para ser restabelecidos, se o forem. Temos saída deixando a situação como está? É possível manter a esperança em uma Presidente enfraquecida que exige enormes sacrifícios da população em nome do ajuste fiscal e triplica a verba destinada aos partidos políticos que se especializaram em dizer coisas lindas na TV e fazer outras bem diferentes?

Espero e desejo que se encontre uma solução pacífica e corajosa para o nosso país. Vamos resgatar nosso Brasil, enquanto é tempo.

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