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Paradiso

Há tempo, quando assisti ao deslumbrante e fascinante Cinema Paradiso, que me marcou

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 28/04/2015 às 19:54Atualizado em 17/12/2022 às 00:24
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Há tempo, quando assisti ao deslumbrante e fascinante Cinema Paradiso, que me marcou profundamente, percebi ainda mais a importância do zelo, da hora certa, do momento adequado, da preservação, do cuidado, do ensinamento, da amizade, da admiração. Aos que já assistiram, recomendo fazê-lo novamente, e aos que ainda não, recomendo urgentemente. É um legado que enseja as vicissitudes históricas, sociais e humanas de uma forma irretocável. Contempla-nos com o sentimento forte da amizade, da paternidade voluntária e da singeleza da vida em seus aspetos mais naturais e que hoje seria inconcebível, pelo fato dos avanços tecnológicos incomensuráveis e pelos valores que se dão às coisas e às necessidades estimuladas como se fossem vitais para alcançar satisfação e posição. O sentimento e o amor mudaram de forma, de tamanho, de importância; essa é a sensação que o filme passa. O sorriso da criança em Paradiso não é mais o sorriso das crianças de hoje. O humor e a graça envelheceram, o pastelão deu lugar ao empastelado e o riso infantil saiu do rosto para dar lugar ao semblante mais sisudo, cenho e concentrado nos teclados digitais. O que as descobertas suscitavam surpresa, prazer e até espanto, hoje também não fazem sentido, há quase nada a se descobrir, a se revelar. Estamos na era da dinastia juvenil, que impera empunhando armas de combate poderosas, acionadas on-line pelo teclado e por controle remoto. O mundo espetacular das grandes descobertas já vem pronto. Não há mais nada a deduzir, intuir, experimentar, mirando em exemplos positivos ou não dos mais velhos. Tudo já está testado, armazenado, zipado, é só desfrutar. A genuína ingenuidade não cabe mais nos tempos atuais. Quando ocorre, deixa de ser qualidade infantil e é reconhecida como defasagem, atraso. Voltando ao Paradiso, podemos estabelecer nítidas diferenças que, talvez, poucos de pouca idade reconheçam como virtudes e qualidades. Não sei se o filme despertaria aos mais jovens de agora o que há 27 anos sensibilizou uma geração ou mais, seguramente. O encantamento das revelações que a vida propiciava, hoje, é quase um desencanto, banal demais. Os beijos tirados de cena nas exibições dos filmes em Paradiso tornam-se a mais grata e bela surpresa, um presente poderoso que foi entregue anos após, finalizando o enredo. Atualmente, os beijos coletivos roubam a cena e, a meu ver, dão pena. Paradiso já não existe e nem existirá mais.

(*) Engenheiro [email protected]

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