Sempre admirei e até invejei pessoas de riso fácil! Aquele riso barulhento e gostoso, que enche a sala e desanuvia o ambiente.
Riso que vem de dentro e reflete a maneira firme, mas divertida de tocar a vida. Riso confiante. Em cascata...
Que se contrapõe ao riso sarcástico, traiçoeiro, que aniquila e congela o outro.
Esse riso que pressupõe superioridade, seja ela moral, intelectual ou social, é uma demonstração de fraqueza. É próprio dos frustrados e invejosos.
Não gosto também do riso debochado, disfarçado, pois que reflete insegurança, vontade enorme de chamar a atenção. É próprio de pessoas que ainda mantêm o pé na infância mimada e poucas vezes contrariada. Agora adultos, não podem chorar e usam o riso como esteio ou arma.
Nunca fui de riso fácil e por isso tanto o admiro!
Nasci, como todos, chorando! E assim continuei por árduos 12 meses, para o desespero de minha mãe, minha avó e minha tia... dia e noite, na cabeça delas, que se revezavam para mamãe dormir. Dizem que até papai entrou na dança noturna!
Encarnação compulsória? Talvez.
O fato é que cresci séria, de olhos grandes e sempre marejados. Quando me lembro da infância, são fatos densos que mais me recordo.
Nas leituras da Bíblia – por que os escravos do Rei Salomão, tão sábio e bonzinho, não bebiam também nas taças de ouro?
Por que meus amigos, filho dos empregados? ... Por que a mãe de chapeuzinho? ... Por quê? ... Por quê? Uma criança chata para os preceitos da época.
Cresci questionand a religião, a reforma agrária, a autoridade em geral. Uma adolescente rebelde, mas dentro dos padrões rígidos da educação patriarcal. Sem excessos loucos! Apenas chata.
Encontrei meu salvador de olhos azuis e uma das primeiras coisas que ele me disse – “Eu vou ser feliz na vida” – me fizeram decidir: É com esse que eu vou...
Mas, mesmo após tantos anos, ainda não aprendi com ele. Meu riso continua travado.
Se vamos caminhar, vejo mães mendigando com filhos e question Será para elas a única opção de sobrevivência ou usam a forte imagem materna para comover? São frangalhos humanos? Dou dinheiro para dirimir a dúvida ou converso?
Ele?! Vê atletas, árvores frondosas e crianças ... sua paixão.
Se assistimos a um filme juntos, O Sal da Terra, por exemplo, ele se fixa na trajetória vencedora de Sebastião Salgado; eu choro pela degradação humana que ele retrata.
A beleza ou a tragédia estão nos olhos de quem as vê e isso faz toda a diferença poética e de vida.
Parece que carrego na alma uma dor imensa, própria dos tuberculosos escritores do romantismo do Século XIX.
Há tempos adotei a música de Gonzaguinha O que é, o que é como lema. Para me fortalecer. Mas ainda não a impregnei na alma.
A vida é um dom divino! Sem dúvida. Mas torná-la bela e bonita só depende de nós mesmos.
Já não sou a garotinha questionadora, de olhos marejados e chata (há controvérsias). Tenho vivido com garra e propósito.
Mas o riso solto! Um desafio...
(*) Mãe de família