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Riso

Sempre admirei e até invejei pessoas de riso fácil! Aquele riso barulhento e gostoso

Marília Andrade Montes Cordeiro
Publicado em 25/04/2015 às 19:00Atualizado em 17/12/2022 às 00:24
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Sempre admirei e até invejei pessoas de riso fácil! Aquele riso barulhento e gostoso, que enche a sala e desanuvia o ambiente.

Riso que vem de dentro e reflete a maneira firme, mas divertida de tocar a vida. Riso confiante. Em cascata...

Que se contrapõe ao riso sarcástico, traiçoeiro, que aniquila e congela o outro.

Esse riso que pressupõe superioridade, seja ela moral, intelectual ou social, é uma demonstração de fraqueza. É próprio dos frustrados e invejosos.

Não gosto também do riso debochado, disfarçado, pois que reflete insegurança, vontade enorme de chamar a atenção. É próprio de pessoas que ainda mantêm o pé na infância mimada e poucas vezes contrariada. Agora adultos, não podem chorar e usam o riso como esteio ou arma.

Nunca fui de riso fácil e por isso tanto o admiro!

Nasci, como todos, chorando! E assim continuei por árduos 12 meses, para o desespero de minha mãe, minha avó e minha tia... dia e noite, na cabeça delas, que se revezavam para mamãe dormir. Dizem que até papai entrou na dança noturna!

Encarnação compulsória? Talvez.

O fato é que cresci séria, de olhos grandes e sempre marejados. Quando me lembro da infância, são fatos densos que mais me recordo.

Nas leituras da Bíblia – por que os escravos do Rei Salomão, tão sábio e bonzinho, não bebiam também nas taças de ouro?

Por que meus amigos, filho dos empregados? ... Por que a mãe de chapeuzinho? ... Por quê? ... Por quê? Uma criança chata para os preceitos da época.

Cresci questionand a religião, a reforma agrária, a autoridade em geral. Uma adolescente rebelde, mas dentro dos padrões rígidos da educação patriarcal. Sem excessos loucos! Apenas chata.

Encontrei meu salvador de olhos azuis e uma das primeiras coisas que ele me disse – “Eu vou ser feliz na vida” – me fizeram decidir: É com esse que eu vou...

Mas, mesmo após tantos anos, ainda não aprendi com ele. Meu riso continua travado.

Se vamos caminhar, vejo mães mendigando com filhos e question Será para elas a única opção de sobrevivência ou usam a forte imagem materna para comover? São frangalhos humanos? Dou dinheiro para dirimir a dúvida ou converso?

Ele?! Vê atletas, árvores frondosas e crianças ... sua paixão.

Se assistimos a um filme juntos, O Sal da Terra, por exemplo, ele se fixa na trajetória vencedora de Sebastião Salgado; eu choro pela degradação humana que ele retrata.

A beleza ou a tragédia estão nos olhos de quem as vê e isso faz toda a diferença poética e de vida.

Parece que carrego na alma uma dor imensa, própria dos tuberculosos escritores do romantismo do Século XIX.

Há tempos adotei a música de Gonzaguinha O que é, o que é como lema. Para me fortalecer. Mas ainda não a impregnei na alma.

A vida é um dom divino! Sem dúvida. Mas torná-la bela e bonita só depende de nós mesmos.

Já não sou a garotinha questionadora, de olhos marejados e chata (há controvérsias). Tenho vivido com garra e propósito.

Mas o riso solto! Um desafio...

(*) Mãe de família

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