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Combatendo as doenças endêmicas

Durante uma reunião da qual participei, em meados dos anos 70, sobre doença de Chagas

Valdemar Hial
Publicado em 15/04/2015 às 19:12Atualizado em 16/12/2022 às 03:32
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Durante uma reunião da qual participei, em meados dos anos 70, sobre doença de Chagas, foram mostrados dados alarmantes sobre o número de chagásicos. Naquela época, a área endêmica da doença de Chagas cobria 18 estados nacionais e mais de 2.200 municípios. A pergunta que se fazia era:

- Como reduzir essa moléstia em nosso meio?

Uma das propostas óbvias consistia em exterminar com o vetor transmissor, ou seja, com o Barbeiro. Em determinado momento, alguém da plateia propôs que o governo deveria pagar por barbeiro que as pessoas conseguissem capturar, retirando-os de circulação. Naquele instante, lembrei-me que, em um passado distante, fato semelhante àquela proposta ocorrera no Brasil.

A peste bubônica, uma doença há muito conhecida, é transmitida ao homem pela pulga do rato. Em meados de 1899, a doença surgiu na cidade do Porto, em Portugal, vinda de outros países da Europa. Em outubro de 1899, ela chegou pela primeira vez em nosso país, na cidade de Santos. Dali, a doença espalhou-se para a capital paulista, onde fez sua primeira vítima em novembro de 1899. A situação era preocupante. A população era incentivada a caçar os ratos. Os jornais conclamavam o povo a lutar nessa importante batalha: “Guerra aos ratos, guerra constante, tenaz, de extermínio”. Os serviços sanitários cuidaram de envenenar os esgotos e as galerias de águas pluviais e fluviais, desinfetar armazéns, domicílios  e outras construções, onde pudesse existir lugares propícios para a reprodução desses roedores. O governo, sentindo que poderia perder essa luta, constituiu o principal incentivo à população, pagando pelos ratos caçados. Assim, em cinco de novembro, noticiou o jornal O Estado de São Paul “De hoje em diante, o Desinfectório Central pagará a 300 réis os ratos mortos”. Tais incentivos deram resultados imediatos. No dia 4 de novembro de 1899, foram incinerados 417 ratos e, no dia seguinte, quando a lei começou a vigorar, foram mortos 961 animais. Ao final do mês, 14.000 ratos foram eliminados. No mês de dezembro, ocorreu um único caso da peste. As autoridades, buscando intensificar a campanha de caça aos ratos, passaram a comprá-los a 400 réis.

Ainda que inusitada, a estratégia deu resultados, porém não faltaram aqueles que criaram ratos para vendê-los. Felizmente, a malandragem foi descoberta e seus autores, presos. Apesar desse triste incidente, a população foi fundamental no controle da peste bubônica no Brasil.

Voltando aos barbeiros, respondi àquela pessoa que havia proposto pagar pelos insetos capturados que, a exemplo do que ocorrera no controle da peste bubônica, a iniciativa poderia dar bons resultados, mas não faltaria quem os criassem para vendê-los.

Com relação à dengue, pergunt

- A população está ciente do seu verdadeiro papel no combate a essa doença? Bem, esse é um tema que tratarei em outro momento.

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