Os de cujus não falam...

No dia 2 de abril de 2015 tivemos a queda de um helicóptero modelo EC 155 B1 em Carapicuíba (SP), quando morreram cinco pessoas e entre elas o jovem Thomaz Rodrigues Alckmin, filho do governador paulista Geraldo Alckmin.

Na mesma data ocorreu, e ainda ocorre, grande incêndio na empresa Ultracargo em Santos (SP). O evento com o helicóptero, segundo consta, foi atribuído à fadiga ou quebra da hélice que se soltou. Já a causa do incêndio dos milhões de litros do combustível demandará um bom tempo para vir à tona. Ficarei surpreso se não disserem que a falha é material ou mecânica.

Quanto ao helicóptero, todos sabem do rígido checklist a ser obedecido antes, durante e depois de qualquer intervenção em seu corpo. A aviação é assim e estamos conversados. Para que uma pá de hélice tenha se desprendido, alguém contribuiu para tal. Esse alguém pode até não ser identificado, mas que ele existe, existe. Daí ser estranhíssima essa ocorrência desastrosa.

Num megadepósito de combustíveis, como é o caso, nada pode ser feito sem que normas rígidas de segurança sejam obedecidas. Mesmo assim alguém concorre para que um simples procedimento possa não ser observado. Quando auditor fiscal do trabalho, investiguei acidentes fatais causados por pequenas falhas humanas. Paulo Pereira, vítima da desatenção de colegas na empresa Fosfértil (há décadas), ainda tem a ausência chorada.

O helicóptero e o depósito de combustíveis estão sujeitos a um mesmo princípi antes da queda do primeiro e a explosão do segundo, ambos passaram pelas mãos falíveis do homem. As falhas mecânicas vieram em seguida, embora muitos insistam em inverter essa ordem.

Há uma tese confirmada: a falha é diagnosticada como exclusivamente mecânica quando há interesses e, humana, se predomina o desinteresse. Tudo isso porque os de cujus não falam...