Netos são filhos açucarados, bombons de festa, presentes divinos. Quem os tem sabe disso.
Dia desses, em conversas com um dos meus, duas constatações dele me fizeram perceber que são, além do mais, perfeitos educadores.
Numa primeira situação, ele chega da escola correndo e pede para eu jogar bola com ele.
_“Não! Estou muito cansada!”
_“Mas, vó! Você é a única que não trabalha aqui em casa e nunca tem tempo e vive cansada...”
Vá explicar! Vou é jogar...
Dias depois, programando nossas férias de julho, ele me alerta como o tempo está veloz!
Vixe! – pensei... Se a sensação chegou às crianças, é sinal de que algo anda ocorrendo.
Adultos têm muitos afazeres e não é raro o dia terminar sem termos tido o tempo necessário para realizar o que havíamos programado.
Frustração! Faltou tempo.
Para alguns, é a falta de tempo que leva ao estresse; para outros, é tempo demais para passar sem muito a fazer. Sobrou tempo.
Meu neto me fez enxergar a necessidade de reprogramar minha rotina.
Nunca fui boa em matemática, mas resolvi arriscar.
24 horas x 30 x 9 = 6.480 horas para administrar meu tempo.
Tomando uma firme decisão, resolvi rever minhas metas anuais para as horas restantes.
A prioridade ainda será a família, claro.
Mas agora quero uma vida de dedicação mútua e recíproca com o meu marido.
Sempre tivemos um relacionamento sadio, mas agora quero fazê-lo sentir, e também me sentir seu bem mais valioso.
Manterei um olho na folhinha e não mais deixarei que situações externas ocupem todo nosso tempo, ou que interfiram no nosso tempo.
Quando os atritos surgirem, quero contar carneirinhos e não perder tempo com picuinhas.
Quero parar, respirar e apreciar meu dia. Praticar yoga para tentar chegar mais perto de quem eu realmente sou.
Quero me esforçar para me tornar uma pessoa melhor, enfrentar situações difíceis com altivez e equilíbrio, me despojando diariamente de lembranças indigestas.
Viajar muito. Mas, quando presente, me tornar inteira.
Manter Deus ao meu lado, todas essas horas, principalmente nas situações mais felizes.
Maior desafi vigiar cada palavra, dentro e fora do lar.
Não deixar que a idade me provoque também a incontinência verbal. A falsa presunção que a idade nos educa e de que podemos passar aos mais jovens nossa experiência de vida é nefasta e cansativa. Jovens querem e devem ter suas próprias experiências...
Ter mais tempo com meus netos...
Tudo isso é trabalho difícil. Demanda paciência, dedicação e tempo.
Deve ser como tecer uma colcha de retalhos, habilidade que não tenho, mas que, como todo desafio, me estimula...
Haja tempo!
(*) Mãe de família
