Impeachment ou intervenção

Pedem aos quatro ventos a instauração do impeachment da presidente da República Dilma Rousseff. Será o melhor? Não creio. Outros ventos pedem a intervenção militar no País. Isso é bom? Também não creio. E por quê?

É simples o meu raciocínio diante desses dois delírios que, baseando-se na história recente, expressam desconhecimento de causa. Impedir Dilma Rousseff de governar equivale a tirar de suas mãos o governo e passar ao vice que, a meu ver, pouco ou nada acrescentaria. O impeachment, embora sendo clamado pela multidão, é decisão política e a sua votação por advir do congresso pode morrer no útero. Ou seja, entre os votantes, muitos votariam contra por razões óbvias ligadas ao envolvimento com a corrupção. Ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo, o que dirá, então, votar.

E qual é o papel institucional das Forças Armadas? “Destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” Assim prescreve o Art. 142 da Constituição Federal. A ordem do povo é razoável, mas a lei nem tanto.

Guardiões da nossa constituição, os militares a violariam perpetrando uma simples intervenção no país. E adeus à democracia que tanto buscamos ao longo de toda a nossa história. Muitos ao pedir a volta dos irmãos fardados, imaginam que eles governarão por um breve tempo, aceitarão a balbúrdia atual, se renderão ao crime organizado, engolirão a corrupção que nos assola, etc., e depois nos devolverão o País. Nossos anais registram que, quando no poder, os da caserna não têm meio termo. Daí concluir que muitas cabeças serão “cortadas”. Teremos estrutura para reviver essa realidade?

Os imediatistas de plantão que se recordem da idade do Brasil. Temos apenas 515 anos e nesse curto tempo convivemos muito com regimes de exceção e pouca liberdade. Admito que essa marca profunda nos punhos nos fez dependentes a ponto de, hoje em abstinência, pedi-la de novo, como se além dela não existisse nada melhor. Gostamos das pulseiras de aço?

Devemos sim assimilar o Estado Democrático de Direito e lutarmos para legitimá-lo a cada dia. Impeachment ou intervenção militar, por melhor que sejam, serão infrutíferos à atual e futuras gerações.