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A parada – foi sonho?

Começo lembrando tempos atrás e que não voltam mais. Foi tudo numa época distante

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 18/03/2015 às 20:32Atualizado em 16/12/2022 às 03:35
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Começo lembrando tempos atrás e que não voltam mais. Foi tudo numa época distante, a rapaziada que se ascende hoje ainda não existia, são artigos do tempo moderno. Lembram-se apenas os velhos... e muito velhos, eu estava nesta turma. Conto e recordo que este velho era moço, estava estudando medicina na Praia Vermelha – Faculdade Nacional de Medicina. Assim como hoje e agora o Brasil estava pegando fogo. Getúlio Vargas foi por 15 anos o ditador presidente, era um gaúcho baixo e gordo, corajoso saído da revolução... e pensava que era permanente no poder. Lembro-me – e por aqui algum velho vai lembrar o nome do seu guarda-costas – o Gregório Fortunato, sem o qual Getúlio não entrava na massa popular. Bem, e de passagem, lembro que o chefe nacional de tantos anos foi apanhado em flagrante violação da lei e escândalo tão sério que Getúlio gaúcho apelou e deu um tiro no seu coração, ali cedo no palácio do Catete. Minha república estava a uns 300 metros do drama, na rua Buarque de Macedo. Ninguém teve coragem – e não foi permitido – sair de casa até levarem o presidente finado. O desastre gerou uma confusão política, partidos que lutavam dentro da inesperada liberdade – coisa que durou tempo e até hoje é lembrada, afinal foi assim que entramos na era democrática. Bem, meu leitor vai perguntar: JG, aonde você quer chegar? Bem, eu não quero chegar, já cheguei e passei. Estou agora no final de linha, em muitos anos da história Getúlio Vargas. Aquela violência não cabe mais, estamos civilizados... Será mesmo? Vamos ver em curto prazo. A presidente Dilma está enfrentando uma situação terrível – no tempo de Getúlio o povo jamais faria esta parada atual, mansa na rua... Sinto que a rede presidencial governante foi balançada, mas não caiu. Ninguém deu tiro nem pregou violência – e isto é um progresso do Brasil. Existem escândalos terríveis no processo da administração financeira, que era festivo. Não foram apenas os aprisionados que agora serão ouvidos e julgados. Neste mato, diria a literatura, tem coelho. Vamos ver como o PT e seus aliados irão manejar este bas-fond. Penso que muita gente vai sofrer. Porém a parada nacional do domingo passado foi uma vitória democrática. Esta talvez seja o seu maior mérito, coisa de um novo tempo. E termino como meus companheiros da velha república: vão assistir isto, ou é novo sonho?

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