ARTICULISTAS

Do cinzento lugar feminino contemporâneo

Em recente entrevista com a jornalista do JM Thassiana Macedo, sobre o Dia

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 11/03/2015 às 20:06Atualizado em 17/12/2022 às 01:04
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Em recente entrevista com a jornalista do JM Thassiana Macedo, sobre o Dia Internacional da Mulher, abordamos o que falta à mulher para assegurar seu espaço social, onde pudéssemos reconhecer facilmente os valores verdadeiramente femininos, uma vez que, atualmente, quando uma mulher ascende ao poder, principalmente político, ela apenas repete o modelo masculino, não representando, portanto, uma mudança no ambiente social tão esperada por todos. Na oportunidade, refleti apenas sobre a necessidade do autoconhecimento como fonte e inspiração de ações diferenciadas, em seguida ao assistir o excelente filme “A Cor Púrpura”, de Steven Spielberg,  baseado no romance da escritora Alice Walker, completei meu pensament o desejado conhecimento de si necessita servir de sustentação ao AMOR, tanto o amor próprio quanto o amor ao outro.

O enredo se desenvolve em torno de Celie, uma jovem negra que foi estuprada pelo próprio pai, aos 14 anos, gerando dois filhos, dos quais ela é separada imediatamente, sendo também doada ao Sinhô Alberti, que a trata como escrava e companheira sexual. As cenas enfatizam as diversas perdas vivenciadas, pois ela é traumaticamente separada de todos a quem ama e junto aos quais se sente também amada, como sua irmã Nettie, que se torna missionária na África.

Seu companheiro e dono Sinhô Alberti expressa-se da seguinte forma sobre ela: você é negra, mulher e feia, portanto não conseguirá nada sem mim e tampouco de mim... o que ela toma como verdade, até que conhece o amor de Shug Avery, a amante adorada de Alberti, que ele leva para a própria casa, quando a encontra doente, até sua completa recuperação. Shug reconhece a beleza de Celie e seu valor, ensinando-lhe a sorrir completa e abertamente.

Toca-nos profundamente a cena em que Celie impede a agressão de Sinhô apenas com a mão e os dedos estendidos em sua direção, no momento em que decide abandoná-lo, depois de encontrar e ler todas as cartas de sua irmã Nettie, que ele não lhe entregou, impedindo-a de manter uma relação prazerosa com a irmã, mesmo distante. Neste instante, já fortalecida pelo amor de Shug e pelo carinho e admiração de Sophie, ela limita o habitual agressor, dizendo-lhe que ele perderia tudo o que a impedira de ter...

Voltando ao cinzento lugar feminino contemporâneo, onde não percebemos a marca da mulher e seus valores em tudo aquilo que faz, em virtude do desconhecimento e do desamor a si própria, a ponto de transformar em best-seller a trilogia de um relacionamento sadomasoquista açucarado, vislumbramos a única e segura saída: priorizarmos a informação, facilitarmos o conhecimento e aguardarmos o resultado inevitável de uma vida mais plena e prazerosa da mulher em suas necessidades de amor e espaço para ser.

(*) Psicóloga e psicanalista

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