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Mercado brasileiro

Não me intitulo fazendeiro ou simplesmente produtor rural como querem

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 04/03/2015 às 19:36Atualizado em 17/12/2022 às 01:08
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Não me intitulo fazendeiro ou simplesmente “produtor rural” como querem a imprensa e o governo. Sou muito pequeno, muito velho para incomodar os gerentes nacionais do mercado agrícola. O que escrevo é raro e é também pequeno para incomodar os grandes – mas sei que a turma da arquibancada sofre e me apoia. No terreno da agricultura dos tempos atuais faço algumas considerações... em nome dos pequenos. O primeiro capítulo é de observação pessoal, porém de meu conhecimento e participação. Vejo e sinto de primeira: o campo dos produtores rurais está dividido em duas classes: os pequenos e os grandes. Os pequenos são herdeiros de propriedades e trabalhos de heranças. O tempo mostrou que com frequência a divisão empobrece suas famílias – muitos se mudam para a cidade em busca de outras ocupações e rendas de trabalhos, de estudo, educação e outras oportunidades urbanas. Os que ficam sofrem – e dou exemplo no meu estil um amigo tinha pequena propriedade, de baixa e difícil renda, mas era teimoso, disse que não ia fugir pra cidade. Um dia, ainda de manhã, viu o seu último vizinho passando com o carro velho cheio de badulaques de mudança. O cachorrinho vira-lata era amigo, mas disparou a latir e ganir na passagem da família. O meu amigo teimoso e sofredor deu um pontapé no cachorro, e gritou pesad “vai já pra dentro, seu covarde!” Bem, este grupo está sofrendo uma longa agonia. Para contrastar, sinto, leio e conheço os empresários e os ricos que estão entrando nos campos da produção moderna. Ela é rica, não apenas no gado, mais adiante no produtor da nova agricultura, no café, no milho, na soja, em enorme variedade de produtos que vão à indústria, às fábricas, exportação e mercados agricultores. São riquezas novas e de interesse muito maior, pelos mercados internos e pela exportação. Agora, e apenas como observador, quero denunciar, neste final de crônica, acontecimentos resultantes e perigosos. As grandes empresas dos mercados “pesados” estão arriscando. Cito, por ser parte produtora e pobre: o caso do café, ouro brasileiro. Há quatro anos, o café teve uma crise de produção e seu preço foi para as alturas – quinhentos reais, a saca. Muita gente entrou na dança, o novo preço foi caindo... até menor de trezentos. O investidor de fazenda jogou muito, e sifo. Agora houve esta seca mundial, os grãos foram pro cascalho... o café na frente. Bem, o tempo choveu e melhorou, esperava-se um preço justo e recuperador. Cascata, meu amigo, as empresas sabem que o seu produto levou graxa... e falta de chuva... e colheita pior... e o preço baixou curiosamente... Vem um revertere mais adiante, o mercado sabe – mas será tarde para muitos.

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