Preciso. Milimetricamente. Altitude e velocidade têm que estar perfeitas. A pista precisa estar visível. Da tripulação, atenção máxima. Mas, se algo der errado, paciência. Potência nos motores e vamos a um novo pouso.
São muitos os enfrentamentos desse voo danado de difícil que é viver. Às vezes nos vemos perdidos na cabine cheia de instrumentos e por mais que um dia nos tenhamos sentido preparados para o comando, olhamos para aquilo tudo, o avião chacoalhando, o compartimento de passageiros cheio de gente que a gente ama, confiantes de que nada nos vence, de que tudo sabemos.
Depois de um suspiro e uma oração, recolocamos as mãos no manche e vamos lá. O voo preciso tem que continuar. Assim como foi a vida imprecisa até aqui, impressa no rastro deixado no céu com tudo o que já vivemos ficando para trás com uma rapidez entristecedora.
Mas, se pilotos se preparam tanto para situações tão frias e matematicamente exatas, onde basta que mantenham números como velocidade e altitude dentro dos parâmetros corretos para que não caiam, por que há ainda aviões se espatifando no chão?
Voar é exato. Viver, não. Acho que aí está a resposta. A exatidão da matemática não resiste à surpresa que é viver. Somos também seres de natureza inexata, movidos pela emoção e por sentimentos que disputam com a lógica a nossa preferência e que frequentemente, vencem.
Somos todos sentimentais em estado natural. Precisos, é como temos que ser até que possamos ser sentimentais de novo.
Por isso, assim como navegar, voar é preciso. Pousar também.
Viver é só necessário.