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Crítica e autocrítica

Falar dos outros é muito fácil. Criticar é tarefa leve, muitas vezes cômica, irônica, engraçada

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 21/02/2015 às 19:33Atualizado em 17/12/2022 às 01:20
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Falar dos outros é muito fácil. Criticar é tarefa leve, muitas vezes cômica, irônica, engraçada, outras vezes maldosa, até mesmo, em certas situações, criminosas. Enfim, criticar os outros todos sabem, sem muito embargo de dificuldade. Pode até ser que não se expresse a crítica, mas criticar, sem dúvida, pela amplitude dos críticos, é tarefa vulgar. Não que toda crítica seja apoiada na verdade, na justiça. Há as que decorrem da inveja ou visam a intriga, mas construí-la geralmente está ao alcance de todos.

A crítica construtiva é importante, contudo, em regra, são destinadas sob a égide da discrição, reservadamente, e diretamente ao criticado, geralmente por verdadeira amizade.

Difícil é a autocrítica.

Essa é matéria quase sagrada, distante, intocada.

Poucos dedicam tempo ao espelho para mirar a si mesmo, criticando-se como se exercita tanto na crítica ao alheio. Quem desenvolve essa coragem, geralmente cresce mais, mais rápido, com consistência. Toma consciência de si para saber onde seguir, quando seguir, onde recuar, quando recuar. Conhecer limites próprios, defeitos a corrigir, é medida de evolução, exercício íntimo de humildade, necessário ao crescimento pessoal e espiritual.

Mas viver fugindo de si mesmo, escondendo de si a verdade  própria que não se pode confessar, por não ter força para buscar corrigir, ou por não ter humildade de encontrar em si o defeito que tanto critica em outrem, pela fraqueza de não reconhecer a imperfeição, importa em dor silenciosa e oculta que persegue como a sombra escura de si mesmo.

Olhar a vida de frente para si mesmo! É tarefa pesada, que dela quase todos nós fugimos disfarçadamente, ou postergamos, ou simplesmente dela consciência não tomamos.

Ter a autoestima elevada e a autocrítica rebaixada não é medida de bom padrão.

O equilíbrio é importante. Receber com estrutura a crítica externa e avaliá-la com critério de autocrítica, no mínimo para dosar a postura no elemento criticado, ajuda a crescer, a melhorar, a evoluir, a ser amigo de si mesmo, a gostar de você sem fugas íntimas. A autocrítica retira a cegueira de se achar o perfeito. Afinal, perfeito ninguém é.

(*) Juiz de Direito

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