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Inesperada

Por ela eu não esperava, apareceu de repente e se instalou sem pedir licença

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 17/02/2015 às 17:19Atualizado em 17/12/2022 às 01:23
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Por ela eu não esperava, apareceu de repente e se instalou sem pedir licença. Ocupou-me com uma intensidade tão forte que caí na cama, arrepiado, boquiaberto e com o calor tomando conta do corpo. Conseguiu tornar-me cativo e indefeso diante da espantosa capacidade de me quedar envolto em lençóis sem conter os arrepios e calafrios que me provoca. Fico sem forças e mesmo resistindo ao máximo, rendo e me entrego pelo inevitável descontrole que me acossa com as reações mais frágeis diante da avassaladora e arrepiante presença. Meu corpo, agora, é dela. Tomou conta de tudo, sinto em todo movimento que faço, em todas as extremidades de minha escrava anatomia que a sente pulsando em minhas veias. Ofegante, prostro-me resignado. Sei que quando aparece, não fica menos de três dias, por isto sei que não é ainda o auge e nem o clímax. Ela tem o controle e o poder por um tempo que não consigo me desvencilhar. Fico sem fala. Às vezes, ruborizado, queixo-me um pouco dos efeitos que me provoca. Com os olhos marejados, trôpego, tento sair fora do ambiente que nos encontramos para tentar arejar-me e aliviar o sufoco que me impõe. Que estranha relação. Apoderado como presa por onde vou, não consigo desprender-me. Tenho a convicção que só o tempo sana nossa perniciosa convivência. É um domínio inexplicável, às vezes, alucinante e delirante. Atingimos o ápice. É o momento que busco esfriar para controlar-me diante do fogo ardente que incendeia minhas entranhas. Quando passa o auge, sei que vai chegar a fase do desinteresse e abandono. Começa a se desligar e vai me deixando pouco a pouco e faz de tal forma para que não sinta saudades e nem deseje sua volta. Quando enfim se vai, deixa tanta marca que a ausência é um grande alívio e libertação. Dá pra seguir em frente com a autoestima recuperada. Por um tempo, estaremos separados, mas sei que pode a qualquer momento voltar. Basta descuidar das minhas defesas, abrir um pouco a guarda, e ela parece que advinha e retorna. Creio que todo mundo passa por isto. Raramente existem receita e remédio. Bom mesmo é estarmos vacinados. Pronto, pulei da cama, estou curado. Mais uma gripe que se vai. Tomara que nunca mais volte, embora saiba que é difícil.

(*) Engenheiro

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