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Perdoar é muito difícil

Padre Prata
Publicado em 01/02/2015 às 15:23Atualizado em 17/12/2022 às 01:37
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Não sei se você é um cristão apenas por tradição ou se você crê realmente nesse projeto de vida que nos foi legado por esse homem extraordinário chamado Jesus de Nazaré. Um programa a ser vivido. Um novo tipo de relacionamento revelado àqueles que acreditam nele. Um programa de vida muito difícil. Há um conjunto de exigências feito não aos fracos, mas aos fortes, aos que realmente têm coragem para assumir. Rotular-se de católico, de crente, de evangélico, é muito fácil. O difícil mesmo é ser cristão no seu sentido autêntic de assumir esse programa. Hitler falava em Deus, como também Mussolini, o General Franco, Bush, Torquemada, Alexandre VI, Henrique VIII, Hernando Cortez, todos esses exploradores, criminosos, torturadores, imorais. É fácil falar. É fácil rotular-se. O difícil é traduzir no comportamento aquilo que Jesus pede de nós. Amar o outro como a mim mesmo. Respeitar o espaço social do outro.

Perdoar as ofensas que nos são feitas. Ser tolerante, compreensivo, compassivo, bondoso, tudo isso exige de nós um esforço heróico. É muito comum a gente ouvir pessoas dizendo “eu sou um bom católico, creio em tudo que a Igreja ensina, faço tudo o que ela manda, assisto Missa, comungo, rezo o terço.” Acontece é que Jesus não veio ao mundo para ensinar-nos como cumprir as leis, os regulamentos, os ritos. Ele disse muito claramente: “Não vim trazer ritos, vim trazer compaixão”. Isso aí é fogo, meu irmão. Ser cristão autêntico é uma parada federal, como diz o ditado.

Ultimamente tenho refletido muito nessa exigência cristã que se chama perdoar. A gente ora todos os dias: “perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos aqueles que nos ofenderam”. Essa coordenada gramatical “assim como” é que torna as coisas difíceis. Oramos, repetimos, sabemos de cor e salteado, mas não cumprimos. Alimentamos ódio, antipatias viscerais, reservas contra o outro, difamamos, caluniamos e nos dizemos cristãos. Somos contraditórios.

Que o leitor me perdoe, parece que estou fazendo um sermão. Não é nada disso. Estou fazendo uma reflexão. Para quem? Para mim mesmo. Sobre a difícil arte de perdoar. Custa muito. O preço é alt sangue, suor e lágrimas. E, na medida em que escrevo, vou me lembrando do filho daquele operário que nunca se preocupou com títulos, com brasões, escudos e roupagens principescas, tudo isso que é fruto da vaidade, da fraqueza humana e da ostentação do poder. Fico pensando no filho do carpinteiro José. Daquele que não veio nos trazer um código de leis, mas um caminho de salvação. De um Reino que está neste mundo, mas não é deste mundo. Era um carpinteiro. Leigo e pobre. “Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem.” Nada mais.

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